(Texto publicado no Diário de Notícias da Madeira, 19032016)
Ribeira Funda, Madeira. Lugar praticamente parado no tempo. Lá, troquei palavras com uma senhora que não conhecia o mundo e que hesitou na idade da sua longa vida. Ali, senti a insignificância das dimensões Espaço e Tempo. Vive-se porque se está vivo.
Como outros na linha de montagem da vida, questiono a ditadura do Tempo e os seus efeitos. Creio que vivemos cansados e encurralados com o que nos rodeia e, por isso, andamos a garimpar um novo começo, uma sociedade diametralmente mais sã e equilibrada.
A montra desta pressão temporal são os MEDIA. Através deles valorizamos tanto o (i)mediatismo que as nossas conquistas, pessoais e sociais, são calendarizadas numa rede social online que deslumbra, ilude e promove o voyarismo. O percurso dos acontecimentos na agenda mediática mostra a textura volátil do real. O consumo exponencial do Espaço e do Tempo mediático-virtual canibaliza a realidade e hoje vivemos mundos paralelos: o da rede online e o outro.
Já vencemos dois meses de 2016 tendo como pano de fundo os traços marcantes de 2015, o ano em que o mundo fixou todos os medos. Os fazedores de opinião foram unânimes: 2015 foi instabilidade, incerteza, caos e medo. O ano navegou mediaticamente entre os inquéritos políticos à Banca, vencidos no ranking pelos ataques terroristas ao Charlie Hebdo e pelos ventos da crise política grega. Confusos, os burocratas da UE deram-se ao luxo de arrastar a crise dos refugiados que disparou com um naufrágio no canal da Sicília. O assunto passou por muitas eleições.
Menos atractiva, a guerrilha política entre os pró e os contra austeridade foi pincelando a agenda, como na altura da rendição de Tsipras e Vourofakis. Os efeitos colaterais marcaram Portugal, também alvo desta batalha ideológica, porque quando Costa perdeu eleições e se insinuou ao cargo de Primeiro-Ministro levou a sua avante com mérito e colossal ajuda da Esquerda mais à esquerda, vingando a derrota internacional do Syriza.
Entre as novelas políticas, o assunto dos refugiados foi perdendo colunas, cabeçalhos e segundos televisivos, recuperando a influência na agenda quando uma foto de uma criança imóvel nas ondas de uma praia na Turquia humanizou o problema. Manteve-se na berlinda quando foi relacionado com a onda de ataques terroristas na Europa.
Em 2016, a agenda continua marcada por palavras como instabilidade, terrorismo, refugiados, lesados do BES, Troika, corrupção, problemas climáticos, Banif, colapsos financeiros e austeridade. Tons negativos amplificados pelo buzz irritante das redes sociais. O mundo está do avesso e tem dificuldade em lidar com isso.
A “cronofobia” dos tempos recentes sinaliza duas tendências que me preocupam: há pouca esperança para o Planeta tal como o conhecemos e o conformismo de que é impossível escapar à avalanche dos medos e do caos, venha de onde vier.
Por acreditar que a Lei da Necessidade faz mover o Homem e forma interesses e objectivos, eu submeteria à Ágora mundial uma única determinação: a de se viver bem, sem a medida do Tempo.
Por isso, porque não experimentamos eliminar a pressão do ontem, do agora e do amanhã? Precisamos do Tempo para aprender? Não iremos envelhecer na mesma? Não evoluímos socialmente sem idade? Para quê submeter-se ao Tempo quando estamos confinados a um limite verticalmente finito!?
Marco P. Freitas