Fruto do drama que os incêndios causaram na Madeira veio ao de cima muito daquilo que tem estado em ebulição na nossa sociedade, de um forma geral e em sectores específicos.
Um dos temas que me é particularmente caro é a discussão que surgiu sobre a cobertura noticiosa de calamidades como esta, os seus efeitos positivos e também os negativos. À mistura foi lançado para o debate público, incluindo nas redes sociais, a pressão política sobre os jornalistas, e a tentativa de orientar a informação nestes casos de crise.
Diga-se, em bom rigor e como nota prévia, que há um manancial informativo sobre estas problemáticias e que o tema estará sempre longe de um consenso, tendo prismas diferentes consoante as realidades onde se insere.
Mas há uma nota que eu não posso deixar de dar, na medida em que um dos temas habitualmente secundarizado nesta discussão é a o da "profundidade do que é e deve ser a liberdade de expressão". E essa secundarização é feita, precisamente, e com particular cuidado, pelos meios de comunicação.
Geralmente com razão, estes são os primeiros a insurgirem-se contra qualquer tentativa que parece coertar o seu direito e dever de informar. Nessa argumentação secundarizam - ou até ignoram - a liberdade que assiste aos cidadãos e às organizações de dizerem o que acham sobre o que pode ou não ser útil para uma boa informação pública. A dificuldade em aceitar este argumento e esta prática, depressa compensada com alusões a tentativas de pressão, encerra uma censura à liberdade de expressão de cada cidadão ou titular de cargo público ou outros. Encerra ainda a presunção de que são os media o garante da boa e livre informação, da boa democracia, da sociedade esclarecida. Isto pode ser na generalidade correcto de se dizer... Mas, é, sem dúvida, uma forma de orientação informativa, logo de condicionamento à liberdade de expressão, que, para que fique bem claro, vem primeiro que a liberdade de imprensa. Esta só existe realmente se a primeira for uma realidade.
Quanto à prática jornalística relacionada com a cobertura de eventos drásticos, existem algumas reflexões importantes a fazer tento em conta o bem público, o contributo para a solução dos problemas e, como não podia deixar de ser, o interesse editorial dos meios de comunicação. É dificl dizer que pode haver um meio termo para os interesses envolvidos mas, a meu ver, terá que haver, sobre pena das tragédias serem um mero motivo para outras guerras, designadamente no campo da política, como aconteceu muito claramente com a situação na Madeira.
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