Eu tive alguma dificuldade em escolher o tema para hoje. Na calha estiveram matérias como o impacto da informação e o papel dos jornalistas na crise; a ideia de fracasso de uma ilha apesar das condições do desenvolvimento registado; a Madeira e seus protagonistas como objecto mediático contínuo; a energia negativa que emana da crise e que gera movimentos de revolta que uns tentam negar, outros promover ou ignorar.
Optei por “filosofar” sobre alguns dos sintomas que emergem da crise na Região.
A altura não é para meias medidas pois enfrentamos a escolha da dependência permanente ou o caminho da procura da auto-sustentabilidade. Mas, o momento da escolha é normalmente acompanhado de alguma tensão. Corresponde, por vezes, à vontade de emancipação, a guerras de gerações. As escolhas trazem consequências e responsabilidades.
O caminho por motu próprio, o único aceitável, implica a capacidade de enfrentar uma fase dura de dificuldades e a tentação de recuar. O recuo é assumpção da nossa ineficiência como sociedade e cultura.
Para tal é necessário uma forte unidade interna, ao contrário do que acontece neste momento, muito marcado pela vontade de ajustes de contas, pelo espezinhar dos que ajudaram a construir a terra capaz que hoje temos, pela procura de poder que ignora a história.
Como é sabido, nos tempos de crise cruzam-se duas vias: a das oportunidades e a dos oportunismos. Estas, são encarnadas por diferentes tipos de personalidade. A primeira está associada a quem procura melhorar o que está mal e a segunda a quem quer aproveitar os despojos de ocasião.
Querer contribuir activamente para um novo “salto de rã” é diferente de fazer parte de uma estratégia para assumir a gestão política, económica e social de uma região, menosprezando quem os ajudou a crescer. Chama-se a isso oportunismo e a história registará o papel dos golpistas.
*publicado no Diário de Notícias da Madeira, 2 de Junho de 2012