Tem faltado comunicação e informação à ‘Crise’?
Sim e não. A formação e a prática profissional ensinaram-me que o excesso de palavras e informação nem sempre correspondem a um melhor esclarecimento da realidade. Muitas vezes, tais excessos traduzem ausência de acção. Por isso, se me pedissem para definir numa palavra a gestão da comunicação sobre a ‘Crise’, cá dentro e lá fora, diria que tem sido desastrosa. O que penso é isto:
a) Os inúmeros episódios da ‘Crise’ têm sido profusamente explorados nas notícias, nos comentários, nos debates e nas conferências, provocando (1º) a sensação da sua democratização e das respectivas soluções, criando um efeito partilha entre decisores e opinião pública, e (2º) a ideia de que tudo tem sido dito sobre a sua gestão, na essência, para evitar o caos.
b) A engenharia financeira que tem prevalecido na análise e na comunicação dos decisores, designadamente no plano das soluções, tem valorizado a dimensão aritmética sobre a social e subjectiva, quiçá, para dirimir o imprevisto que a vertente humana acrescenta ao actual estado de coisas.
c) A alimentação deste circo mediático em volta da ‘Crise’ pode trazer consequências desastrosas, porque um mundo sem percepção da realidade e entregue a um jogo de interesses, aparentemente controlado mas incapaz de reais entendimentos, é um mundo na linha do atrito.
Assim, as convulsões sociais e os movimentos em gestação são a prova cabal de que os nossos líderes muito provavelmente já perderam a batalha da comunicação. E, nesse sentido, sem o apoio voluntário da população, o desastre estará ao virar da esquina. Desconfio que é preciso muito mais do que memorandos ou reuniões entre Nações para convencer as pessoas a participarem no esforço de recuperação das economias. Até porque, o medo dos planos de austeridade também tem prazo limite.
Marco P. Freitas
Consultor de Comunicação