Como ex-jornalista do DNM, como leitor atento, como actual colaborador, desejo as maiores felicidades ao Diário de Notícias da Madeira e apelo que mantenha contante a coerência da sua postura.
Marco P. Freitas
A crise trouxe para cima da mesa temas estruturantes sobre o sistema organizacional da sociedade e a alteração dos modelos instituídos. As medidas sérias que os tempos exigem implicam uma mudança cultural que poucos alcançam e ainda muitos menos conseguem aceitar e cumprir.
Foram apresentadas muitas razões para a crise. Os problemas foram identificados mas as soluções mostram-se frágeis. Porquê? Porque os níveis de transparência sobre o filme da crise equivalem à gestão oscilante e lamacenta da mesma. Porque a admissão dos erros foi parcial.
Por isso, concordo com os que insistem na criação de mecanismos que reforcem a transparência em todos os sectores de actividade. Sem transparência, os erros cometem-se impunemente e um sistema corroído sobrevive.
O problema é transversal e não deve ser sujeito a segmentação. Contudo, temos conterrâneos a afiançar que nós, os portugueses, nascemos com o ADN da fraude e que de nada vale o facto de Portugal estar bem colocado nos rankings internacionais da transparência, a opinião pública reconhecer melhor os processos de corrupção, que mil entidades públicas tenham entregue planos anticorrupção e a campanha lançada pelo Governo junto das empresas exportadoras para evitar práticas de corrupção nos mercados internacionais.
Sabemos que o sucesso dos negócios à escala internacional depende da credibilidade das economias e que a simples ideia de que uma nação, região, entidade pública ou privada é pouco transparente mina fatalmente a confiança dos investidores. Logo, há que limpar alguns dos trilhos percorridos.
A meu ver, o que seria uma pré-medida correctora e de elementar transparência era aceitar que o enfoque negativo e desmesurado sobre o tema é uma abordagem que falseia a realidade, induz em erro e gera preconceitos imutáveis. A transparência é para todos e exige coerência. Também a quem a promove ou divulga.
Artigo publicado no Diário de Notícias da Madeira, no dia 2 de Outubro de 2011