Hoje, sábado 17 de Setembro, ser madeirense parece ser uma desonra... É a primeira tentação que temos, a de achar que somos culpados das nossas opções, porque meio mundo nos desconsidera.
As notícias não são boas. Na verdade, são até muito péssimas para o bom nome da Região, dos madeirenses e de Portugal. Aparentemente, até merecemos honras de referência nos mais importantes jornais do mundo, entre os muitos meios de comunicação nacionais, para não falar da panóplia de sítios na internet, desde os blogs às redes sociais. Mas a fumaça da pressão mediática vai desaparecer, apesar das consequências que provocam...
Pior é a essência de tudo o que envolve todo este problema. E se a crise já era razão de sobra para nos preocuparamos com as merecidas medidas de austeridade, o que a Madeira não precisava, nem Portugal, era de ser conotada com uma imagem de pouco transparente no tratamento e na divulgação das suas contas públicas. Compreendem-se as declarações oficiais e as políticas do Primeiro-ministro de Portugal. Que mais podia dizer sem comprometer toda uma enorme classe política nacional que tem feito o mesml ou pior na condução dos destinos do País.
Toda esta situação levanta muitas interrogações, muito além da estratégia política e financeira seguida pelo Governo da Região que, como é do conhecimento público, gerou uma divída enorme à Região. Mas se é tempo de perguntas, de pedir explicações, de exigir castigos, é também tempo de colocar todas as cartas na mesa no que respeita à relação entre o Estado e a Região, e vice-versa, e de analisar a questão da autonomia até ao seu limite. É que aqueles que tanto a defendem ironicamente podem também tornar-se nos seus carrascos. E aqueles que tanto bloquearam o seu desenvolvimento têm agora uma uma oportunidade de se libertar da Região atribuindo responsabilidades e a assumpção dos custos de uma vez por todas, um tipo de autonomia que muitos autonomistas realmente nunca quiseram, pois as transferências do OE e a dependência do Estado sempre deram jeito.
Curiosamente, dei por mim a classificar o actual estado de coisas como o "efeito borboleta Socrático". A política de terra queimada iniciada por Sócrates está agora a surtir os seus efeitos.
Jardim prontamente recordou que as contas agora descobertas são resultado de engenharias financeiras feitas em resposta ao torniquete imposto pelos socialistas no Governo. Resposta plausível que não explica tudo, não justifica muitas opçoes de investimento nem contra-balança o preconceito criado em relação aos madeirenses. E se se Jardim tem razão quanto ao oportunismo polîtico em relaçao ao ataque de que tem sido alvo, jamais pode ignorar o mal-estar que a sua postura tem criado em relação à Madeira. Isso vai custar-lhe votos... Muitos.
No emaranhado de reacções que vi e ouvi reparei em muita hipocrisia, demagogia e em muita raiva. E, claro, oportunismo. A objectividade e bom-senso que a situação exige veio de pouca gente, talvez fruto do período eleitoral, talvez porque os sentimentos estão exarcebados, talvez porque momentos de crise como este fazem sobressair o que há de pior no homem. Eu não embarco nesta onda.
Repudio as atitudes rudimentares e injustas daqueles que por conveniência atacam Jardim ignorando todo o empenho que dedicou à Madeira, com sacrificio pessoal, aproveitando a ocasião para sacrificar o seu trabalho na praça pública, reescrever a história, e desconsiderá-lo no percurso que a região fez desde o 25 de Abril. Juntamente, procura-se limpar dos arquivos todo um passado de abandono e exploração da Madeira. No que puder não vou permitir que isso aconteça, independentemente de achar que Jardim já devia ter dado lugar a outro. Aliás, ele merece viver a sua vida para além do governo e da política.
É também altura de se discutir a questão da autonomia alargada ou mesmo da independência. Chega de hipocrisias e de teatro. Com transparência que fique bem claro que a Região nunca mais dá um tostão ao Continente e que este só se responsabiliza pelos seus serviços cá, pela defesa e negócios estrangeiros. O resto fica a nosso cargo.
Perdoem-me os meus amigos do continente e os que não são amigos, mas ao contrário de muitos de vocês vamos pagar alto por um défice público mas temos obra feita, temos qualidade de vida e infra-estruturas q.b.. A sério, quantos de vós que vivem fora da Lisboa ou Porto e acham que o vosso encargo na dívida resultou de investimento público e social nos locais onde vivem? Não se deixem iludir, nós vamos pagar mais do que os restantes dos portugueses pela nossa dívida, porque os nossos impostos vão subir mais e, porque (como esquecem muitos dos hipócritas da política e da opinião), na Madeira há muito que pagamos os custos da ultraperiferia. Isso tem sido menosprezado em todo esta polémica. porquê? Não há dúvidas que tivemos e temos investimentos desnecessários. Que demorou-se a mudar o paradigma de desenvolvimento, apesar das muitas sugestões e estudos. Mas também é verdade que nem todos, do partido do governo à oposição contribuiram para o desenvolvimento de novos instrumentos de crescimento económico. Basta ver que numa altura em que a Região mais irá precisar de receitas é quando se bloqueia o mais completo mecanismo de atracção de investimento externo ao nossl dispôr.
Mas não foi só de obras que se fez o desenvolvimento da RAM e não foi só útil para os empresários da construção civil. Lembro-me, assim de repente para as oportunidades que a RAM deu a muitos professores do continente que não conseguiam emprego no seu amado rectângulo. Certamente que estes não odeiam a Madeira como convenientemente se propala para reforçar o mal-estar entre cidadãos do mesmo País.
Lembro-me assim de repente do contributo que a Madeira dá para a indústria do turismo em Portugal.
As alturas de crise são as ideais para clarificar muita coisa e exigem medidas extremas. Faça-se de uma vez por todas um referendo sobre as autonomias, colocando as perguntas dificeis. Assim fica claro qual o caminho a seguir. E deixem-se de desculpas com a Constituição.
É tempo de clarificação e de responsabilidade. E não é só aos políticos que se deve pedir isto. Falos dos super-espertos-inteligentes-tudos resolvem comentadores nacionais, falos daqu eles que sempre beneficiaram das benesses do Governo Regional na cultura, desporto, educaçao e em mts outros sectores de actividade e têm a distinta lata de ignorar toque também contribuiram para o "buraco financeiro" com a sua mão sempre estendida. Falo ainda da comunicação social que à pala de muitos subterfúgios éticos e editoriais esquece de fazer muitas perguntas. Uma delas seria a conveniência da publicação da nota de imprensa conjunta do INE e do Banco de Portugal. Coincidência, pouco depois de Passos ter anunciado que as contas da Madeira seriam conhecidas no fim de Setembro e de Jardim ter, prontamente, desmentido e desvalorizado. A este propósito gostava de saber o que fazem os conselheiros de Jardim que não conseguem convencê-lo que tudo tem feito para ser por a jeito dos seus inimigos...
As eleições serão o momento certo para avaliar e classificar a postura de todos os partidos. Mas, esperem... Não vão ser uma eleições livres. Ninguém tem dito nada contra Jardim, a abordadem dos temas tem sido totalmente favorável, os temas têm sido só os que Jardim quer. A imensidão de cartazes espalhados no Funchal de muitos partidos são ilusão de optica, a publicidade, os panfletos, os posts na redes sociais, tudo é uma enorme máquina de propaganda que só trabalha para o PSD-M.
Certo é que se Jardim mantiver a maioria absoluta é porque o processo democrático esta enviezado e os eleitores são burros. Se for ao contrário, o que teremos então? Os mesmos burros a votar na oposição? Estou curioso.