http://www.obalcao.pt/public/obalcao035.pdf
Artigo de opinião. Publicado no Balcão
Um estudo da Cision revelou que no ano de 2008 a palavra mais escrita na imprensa portuguesa foi a palavra “crise”. Seguiram-se as palavras”futebol” e “investimento”. Um sintoma de que em 2008 prevaleceu a “alma negra” dos portugueses e que o espírito de combate associado ao tema “investimento” foi menos apelativo. Estes considerandos devem ser dedicados à imprensa, responsável por esta dimensão da sua escrita, mas a verdade é que o jornalismo português é um reflexo da nação que temos. Certamente que a informação produzida nos dois primeiros meses de 2009 confirma a análise da Cision a 2008. Por isso, o desejável é que os conceitos e ideias associadas ao investimento se tornem os temas mais badalados na imprensa nacional. Será possível? A crise é um facto consumado. Logo, identificados os problemas e as fraquezas que se têm acumulado, importa inverter a tendência de falta de confiança. Para se assistir a uma tomada de consciência de que é necessário recriar o país, será preciso oficializar que Portugal atingiu o grau zero da governação e da economia. Cavaco Silva pula pelo País para incentivar os portugueses a reagirem, alertando para a importância das exportações, recordando a vontade férrea dos nossos emigrantes como exemplo a seguir, tentando dizer-nos que “é possível”. A tónica nas exportações é interessante mas esbarra na crise que grassa mundo fora e nos nossos principais compradores. Pior, Portugal ainda não consegui construir uma imagem estável e positiva nos mercados internacionais e quando parece avançar tem sempre aquele jeitinho de dar tiros nos pés nos seus melhores projectos ou estratégias. Para além disto, os investidores recusam países onde a justiça é confusa, lenta, de transparência duvidosa. O investimento internacional não se compadece com tamanha instabilidade e, como tal, é cada vez mais difícil explicar Portugal a um estrangeiro. Sócrates também tem feito a sua parte. Há que reconhecer! Mesmo que imbuído do espírito propagandístico que o ano eleitoral sugere, o Primeiro-ministro anda por algumas partes do País a defender as medidas para recuperar a nação da crise ou pelo menos manter o barco à tona. O que até pode gerar algum positivismo. Porém tem muito que explicar aos portugueses. Por enquanto, estou me marimbando para o caso Freeport. O que quero é ter um Governo que saiba assumir o leme e as responsabilidades do trabalho questionável que está a fazer. Sacudir a água para cima do capote da crise internacional é brincar com os portugueses porque a “caixa de Pandora” portuguesa já estava em vias de explosão. O que eu quero é que me saibam dizer que, agora e depois da crise, Portugal vai numa determinada direcção, já que os milhões distribuídos só serão eficazes se for definida uma linha de desenvolvimento clara. E, isso, não está a acontecer… Em suma, quero acreditar que futuro desenvolvimento de Portugal é mais do que o TGV e o novo aeroporto da capital. Marco Freitas