Aqui, na ilha, conhecemos a televisão e o mundo através da RTP-M, vivemos os grandes filmes e saboreamos a séries animadas que o canal passava. As vozes e a expressão de Maria Luís e de Armindo Abreu, só para nomear dois dos mais emblemáticos pivots e jornalistas do canal, ficaram para sempre na memória de muitos de nós.
Aprendemos tanto com a RTP-M que não nos conseguimos afastar do canal, apesar da imensidão de possibilidades oferecida pelo cabo ou pelo satélite. Por isso, somo exigentes com a sua qualidade e queremos sempre mais do canal que sempre foi nosso. Agora, nos dias de hoje, sentimos que o canal tem capacidade para oferecer ainda mais. Tem gestão séria, ideias novas, programas novos e muita dinâmica Pode ser melhor? Claro que sim. É isso que todos os que trabalham naquela casa fazem todos os dias.
Como tal, além de muitas outras considerações a reter sobre a importância da RTP-M para a Região, tal como o número de postos de trabalho que criou, há que considerar que existe muito de injusto nesta pressão partidária contra o canal. Por vir de ambos os lados do espectro político uma das leituras que podemos fazer é que a RTP-M está a fazer um trabalho louvável de isenção, deixando os partidos à beira de uma ataque de nervos por não conseguirem impor as suas ideias editoriais.
A pressão dos partidos sobre a comunicação social parece que está a acontecer em todo o país. Será sintoma de uma classe política enfraquecida, incapaz de sair do fosso onde caíram senão através de práticas menos correctas?
Estas reflexões estão naturalmente relacionadas com as interrogações que o PS-M tem levantado sobre a política editorial da RTP-M. (É estranho que não usem o mesmo critério analítico em relação ao canal nacional).
Na primeira deslocação ao Parlamento Regional, o Director da RTP-M mostrou com clareza e objectividade que as dúvidas dos socialistas e da oposição eram infundadas e que o tratamento noticioso dos níveis da intervenção activa de cada um dos partidos e do Governo Regional.
A RTP-M marcou pontos a todos os níveis com a sua ida ao Parlamento e com o trabalho de análise que fez. Contudo, dados divulgados pela ERC reacenderam a sede de desforra dos socialistas que, obviamente, não leram com atenção os quadros da ERC, ou melhor, como é natural nos partidos, sem excepção, limitaram-se a fazer a leitura superficial que lhe interessa.
Ora, com base nos quadros da ERC a que pude aceder, sobre o número de presenças nas peças da RTP-M por instituição político-partidária, tiramos algumas conclusões que importam referenciar.
A primeira nota é que o quadro que inclui todas as presenças do PS (nacional e regional) emitidas no telejornal, entre Setembro e Novembro de 2007, mostra que o resultado parcial de 15,9%, a que se atribuiu uma deficiente representação do PS, afinal de contas, face ao total das pelas emitidas, não correspondia à verdade dos números pois essa representação devia ser lida como de 22,7%. Assim, a tendência divulgada por Leonel Freitas encontrava paralelo nos dados da ERC.
Procurou-se perceber melhor os quadros da ERC que, claramente, apresentam uma ausência de dados confrangedora e impeditiva de uma melhor análise de conteúdo, em particular para uma entidade de tamanho calibre e responsabilidade.
É porque nestas coisas da análise da cobertura noticiosa o conteúdo também deve ser analisado e não somente o registo quantitativo das notícias e das referências. É muito pouco para apurar os verdadeiros efeitos de uma cobertura noticiosa.
Pergunta-se, por exemplo, o que é que a ERC quer significar com a representação dos partidos em discurso directo ou indirecto ? Foram só contabilizadas as referências de jornalistas, incluindo o PIVOT, ou também as vezes em que um partido se referiu a outro? Indo mais além, será que a ERC contabilizou as vezes em que o PS-M se referiu ao PSD-M ou a AJJ?.
Consideremos também as diferenças nos dados da cobertura noticiosa.
A ERC elaborou um relatório entre os meses de Setembro e Novembro de 2007 e a RTP-M debruçou-se sobre os meses de Outubro de 2007 a Janeiro de 2008.
Mesmo que os dados mais completos agora disponibilizados pela ERC correspondam aos indicadores do canal regional, não é por demais evidente que não se podem comparar tempos diferentes? É pena que o PS-M não tenha percebido esta discrepância. Com certeza, se o tivesse feito, teria sido mais comedido nos seus reparos.
Uma outra diferença é visível no tipo de análise mostra que não se deve comparar o incomparável A ERC optou por apresentar em valores absolutos o número de presenças nas peças por instituição político-partidária e a RTP-M mediu a cobertura em minutos. Será irrelevante esta diferença?
Acredito que um partido, seja ele qual for, prefira ter mais tempo de informação do que número de referências, até porque este último dado não é sinónimo de maior visibilidade, essa sim, medida com maior propriedade pela extensão temporal de uma peça. Isto para dizer que só uma análise de conteúdo mais específica às peças noticiosas permitiria ao PS-M considerar-se, ou não, vítima das políticas editoriais da RTP-M.
Uma terceira diferença de critérios analíticos é demonstrativa de que a oposição poderia ter tido mais alguma contenção nas considerações que fez sobre a RTP-Madeira. Ou seja, referimo-nos aos critérios usados para catalogar as entidades abrangidas na análise.
Por um lado, a ERC considerou um plano de referências mais abrangente desde os partidos, aos secretários regionais, aos directores regionais e a outras entidades ligadas ao governo, por outro a RTP-M considerou para análise a agenda dos partidos e os secretários regionais como parte integrante do governo. São critérios discutíveis, obviamente. Mas são diferentes e, por isso, incomparáveis. Mas, é ainda discutível porque se se considerar para análise a presença de todos os membros dirigentes de um governo, seja ele qual for, é absolutamente natural que o número de referências seja substancialmente superior. Se somarmos a isto a capacidade de iniciativa dos governos face às oposições mais letárgicas, depressa concluímos que os canais de televisão não têm outro caminho a seguir
Apesar de todas as anteriores considerações, decidiu-se, comparando o comparável, aprofundar a análise quantitativa ao quadro da ERC, tendo-se chegado a quatro conclusões de enorme relevância e que, mais uma vez, nos faz estranhar a atitude do PS-M em relação à RTP-M.
Primeiro, somamos todas as referências dos partidos da oposição contra as do PSD e do Governo Regional. O resultado é este: 461 presenças para a oposição e 400 para o PSD e Governo. Ora bem, segundo os dados da ERC, a oposição em bloco não perde para Jardim.
Segundo, considerando que a anterior análise era global e, por isso, capaz de deturpar a realidade, restringindo esta contabilidade ao universo regional. O resultado foi este: oposição regional 374 presenças e o PSD e o Governo pouco mais 386. Um equilíbrio importante e que contraria as criticas feitas à RTP-M.
Terceiro, ainda dentro da lógica de que o adequado é comparar o comparável, entendeu-se correcto comparar as presenças entre os dois maiores partidos regionais. Segundo a tabela da ERC o número de presenças do PS-M foi de 121 e o PSD-M de 118.
Eis um dado que temos dificuldade em perceber como passou ao lado do PS-M. Um dado que só por si aconselhava alguma contenção política e verbal ao partido. A diferença não é enorme mas mostra o PS-M com mais referências, o que é extremamente interessante se considerarmos que as estruturas partidárias em questão têm máquinas de propaganda substancialmente diferente em termos de eficácia e de actividade. Logo, como foi possível que este dado passasse ao lado dos observadores?
Finalmente, em quarto, optamos ainda por comparar as referências ao PS nacional e ao PSD nacional nos telejornais da RTP-M, segundo a tabela da ERC. Este foi o resultado: PS teve 15 presenças e o PSD 14. Palavras para quê?
Uma nota complementar sobre o nível de referências ao Governo Regional que, em momento algum, pode ser tema de comparação já que se trata de uma entidade única.
Fará algum sentido que um partido ignore que um Governo, qualquer que ele seja, tenha mais presenças nos alinhamentos dos telejornais? Não é assim nas emissões nacionais? E faz sentido. Por norma, é um governo que tem a iniciativa política e de acção; é o governo que está mais vezes debaixo do escrutínio da comunicação social, por vias positivas ou negativas (análise qualificativa que a ERC tb não realizou).
Tendencialmente, as oposições têm uma agenda menos eficaz porque seguem a reboque dos governos, agem por reacção. Acontece no espaço nacional como também acontece na Região. Aliás, temos vindo a assistir a fortes criticas de jornalistas da imprensa ao comportamento dos partidos que condenam a postura dos jornalistas mas que se recusam a admitir que têm uma deficiente capacidade para criar factos políticos, esses sim, merecedores de espaço editorial adequado.
Uma outra nota sobre a ERC. Parece-nos pouco profissional e correcto que a ERC liberte este tipo de dados sem uma análise mais cuidada e mais profunda. O efeito das notícias na opinião pública é resultado de um conjunto de condicionantes, onde se incluem o tempo da notícia, o seu alinhamento no conjunto do telejornal, a apresentação do pivot, a reportagem em si e as intervenções directas dos protagonistas políticos.
A quantificação é importante mas é só uma parte de uma análise que ajuda a definir se efectivamente uma cobertura noticiosa foi mais favorável, neutra ou desfavorável a determinada organização. Por isso, perguntamos: terão os partidos condições para atacar o trabalho que a RTP-M tem feito ao nível da informação? A reposta é óbvia.
O *astrisco*
Quadros da ERC no site
http://astriscocomunicar.com.sapo.pt/