Sob o prisma das razões e dos efeitos mediáticos, atrevo-me a propor para uma breve análise temas como: (1) a problemática da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, (2) a guerra política entre a Madeira e o Continente e o problema de comunicação entre ambas as partes, (3) a relação da Assembleia Legislativa Regional da Madeira com os jornalistas e o caso da indumentária e, por fim, (4) o futuro desenvolvimento da Madeira e as respectivas propostas de estratégia a seguir.
1 - O debate público e político regional ficaram inevitavelmente marcados pela problemática da Lei das Finanças das Regiões Autónomas, relegando para segundo plano outras temáticas de índole social, económica e politica.
O frenesim mediático que deu corpo a esta questão é digno de registo, por vários motivos: a) porque envolveu um leque alargado de agentes da sociedade; b) porque foram debatidos temas de natureza económica habitualmente ignorados pela população e pelas agendas temáticas dos meios de comunicação social; c) porque a comunicação social empenhou-se na divulgação dos diferentes pontos de vista sobre o assunto; d) porque a discussão política entre os dois governos serviu na perfeição os interesses das audiências dos meios de informação.
2 - A guerra política protagonizada por Sócrates e Jardim trouxe ao de cima as divergências entre os poderes nacionais e regionais com provável epidemia na opinião pública dois dos lados do Atlântico.
De permeio admitiu-se, publicamente, que a Madeira tem um défice de comunicação em relação ao Continente. É um facto consumado há muitos anos que a Região não comunica de forma eficaz, e como um todo, para o Continente. As barreiras são muitas É verdade!... Como tal, todo o esforço é necessário para mudar a ideia errada que os continentais têm dos madeirenses. A responsabilidade não é só da Madeira Mas, talvez não tenhamos feito a nossa quota-parte para o estabelecimento de uma plataforma comunicativa aceitável e que contribuísse para manter activos determinados processos importantes para o avançar da autonomia.
3 - A relação amor versus ódio entre os políticos e os jornalistas raramente apresenta novidades na agenda temática e pública, muito por causa do discurso circular que ambos os sectores alimentam. Contudo, de tempos em tempos, surgem pequenas guerras como aquela entre o presidente da Assembleia Legislativa Regional da Madeira com os jornalistas a propósito da indumentária a usar quando em trabalho naquela mui nobre casa da democracia regional.
A este propósito podemos discorrer sobre o impacto que alguém altamente mal vestido pode ter no ambiente visual, de trabalho e nas pedras basilares da democracia; podemos ainda discorrer sobre o atropelo ao bom-senso e à educação que verificamos acontecer com frequência nas discussões parlamentares; e no limite, podemos até tentar ver reflexos na qualidade do jornalismo praticado pela forma imprópria como os profissionais se vestem para as deslocações à ALR Mas, a verdade, é que esta crise assemelhou-se a uma birra e não a um esforço para zelar pelo ambiente interno da ALR e do respeito que a casa merece.
É um daqueles casos que tanto a ALR como os jornalistas deveriam ter dispensado honras mediáticas porque o que sobressaiu desse despique foi uma discussão inócua própria para alimentar a maledicência típica da opinião pública presa as estas querelas. Na prática quais foram os efeitos concretos da discussão? Temos agora um melhor jornalismo político ou uma melhor praxis política?
4- Com a discussão à volta da LFRA os madeirenses despertaram violentamente para uma outra realidade: a da necessária definição de uma nova estratégia de desenvolvimento para a Madeira.
Parece que só agora é que a Região tem necessidade de alterar o rumo do plano de desenvolvimento que tem seguido. É falso, porque de alguns anos a esta parte sectores muito específicos da nossa economia têm vindo a alertar para o conjunto de factores disruptivos que indiciavam a necessidade da alterar o rumo da economia regional e prepará-la para a economia global. Com a chegada de uma LFRA altamente prejudicial para as pretensões regionais, com a perda de fundos comunitários, soou o alarme sobre a perda de dinheiros e surgiu a previsão de que não haverá mais crescimento na Madeira, como se o desenvolvimento global da ilha tivesse dependido exclusivamente desse dinheiro e em particular destas fontes. Ouvimos e vimos ilustres comentadores falar de soluções para o futuro desenvolvimento regional que passam pelo aumento do IVA, pela aposta na agricultura de subsistência e pela manutenção das grandes obras públicas realizadas. Planos que contrastam com opções de sucesso tomadas por pequenas economias como as da Madeira e que foram no sentido de valorizar a atracção de IDE, a aposta nos serviços internacionais e a criação de clusters de alto valor acrescentado como é o exemplo dos serviços associados às novas tecnologias.
É preciso definir uma estratégia clara para a Madeira. Feito isso, há que criar um programa de comunicação, com o apoio equilibrado da imprensa, para que todos os madeirenses entendam o que é pretendido para o desenvolvimento da sua ilha e possam de forma directa ou indirecta colaborar nesse sentido, com opinião critica e séria e com trabalho. O próximo ano deverá ser decisivo mas, em abono da verdade, o que vimos em 2006 não é um bom augúrio, na essência, porque descortinamos um reduzido discernimento em relação à definição do nosso futuro. Veremos.