Comunicar pode ser fácil... Se no tempo que a vida nos permite procurarmos transmitir o essencial, desvalorizar o acessório e contribuir, num segundo que seja, para que a mensagem se assuma como tal e não como um universo de segredos...

31
Out 05
Não posso ter uma opinião insenta sob os blogs. Primeiro, porque produzo e alimento um blog e, segundo, porque não há opiniões isentas, sem direcção.

Quando li no outro dia um artigo de opinião intitulado “Bloguistas difamadores” vislumbrei um preocupação da autora sobre os efeitos deste novo mecanismo de comunicação. Genuína... Sem dúvida!

Mas será que a análise dos efeitos do “mundo blog” justifica o menosprezo pela questão de princípio: a da sua existência?

A interessante descrição das potencialidades e riscos da utilização dos blogs, feita na primeira parte do artigo - onde se detecta o espaço de liberdade que este instrumento de informação permite -, não entronca com o ataque desferido àqueles que utilizam os blogs com fins menos claros, sob anonimato.

Senti incluso um apelo à defesa de um discurso entrencheirado em padrões ditos normais, condicionado por regras socialmente aceites, e, obviamente, sujeito a um auto-controlo comportamental que roça amiúde a hipocrisia.

A liberdade de expressão e de manifestação de ideias é tão válida para a imprensa como para os blogs. Antes dos blogs já tinhamos jornais de toda a espécie, para todos os públicos e com políticas editoriais as mais díspares possíveis, encorporando objectivos diferentes, defendendo causas, interesses e usando da sátira.

Os blogs não carregam consigo qualquer função que incentive de per si uma vontade ou intenção de prejudicar terceiros. São de facto um instrumento de comunicação, um veículo informativo que, a exemplo de outros, encorpora a boa ou má-vontade dos autores e participantes. É destes que a nossa preocupação deve cuidar.

Defender a liberdade implica querer correr riscos. Aceitar a liberdade implica aceitar que esta é um processo que aprende com o aperfeiçoamento da relação dicotómica entre o bom e o mau, entre a verdade e a mentira, a transparência e o segredo, entre a circulação aberta da informação e os actos encapuçados de censura.
A perspectiva defendida pela autora do texto a que me refiro é comprensível mas os ataques infudados a que se refere ficam sem identificação, sem a idêntica clareza que solicita aos anónimos.

Antes de se tirar conclusões precipitadas há muitas questões para colocar sobre este tema.
Há bons e maus blogs ou só blogs? Do ponto de vista do consumidor informativo, qual a diferença entre uma informação divulgada por um bloguista anónimo e aquela que um jornalista redige protegendo a pretensa credibilidade da informação sob a capa do anonimato da fonte?
Porque é que os blogs estão a ganhar terreno ao jornalismo formal e tradicional? Será que a confiança na informação transmitida pelos meios tradicionais está a diminuir?

Ao abrigo de várias teorias, princípios e interesses, os media tradicionais também não possibilitam o destilar de ódios e faltas de respeito por terceiros?

O jornalismo ainda não é uma prática profissional madura. Todos sabem disso mas a maioria não o admite... O jornalismo é um espaço de comunicação em constante evolução e adaptação. Então porque exigir dos bloguistas aquilo que um jornalista ainda não logrou alcançar?

Espero contribuir para uma reflexão séria sobre este assunto, sugerindo algumas passagens do livro “Nós, os media” de Dan Gilmor:

“De muitos para muitos, de alguns para alguns. Nestes dois casos e em todos os outros, o blogue é o meio de comunicação.”

“(blogue)... é um jornal online, composto de hiperligações e apontamentos em ordem cronológica invertida, o que quer dizer que o apontamento mais recente é o que ocupa o topo da página.”

“Será possível que a liberdade editorial absoluta conduza apenas ao caos?”

“A cobertura de importante eventos por jornalistas não profissionais é apenar uma parte da questão. O que também interessa é o facto de as pessoas teram oportunidade de falar. É um dos mais saudáveis melhoramentos nos media desde há muito tempo. Estamos a ouvir novasz vozes – não necessariamente de individuos que desejam ganhar a vida a falar em público, mas de pessoas que pretendem dizer o que pensam e o que ouviram, mesmo que só possam falar para uns poucos”.

autor identificado pelo "astrisco"


Posted by astrisco.comunicar at outubro 19, 2005 05:47 PM

Comments
O problema está mais nos comentários do que propriamente no conteúdo dos blogs. As ofensas, nos ditos posts, são mais que muitas e quase sempre sob a capa do anonimato. O remédio está em vigiar os IP's; pois normalmente os anónimos acabam por revelar-se em comentários mais brandos. É um trabalho moroso mas difícil especialmente para os autores dos blog's com poucos conhecimentos de informática. Estudos recentes revelam que grande parte dos difamadores através de post's são amigos, colegas de trabalho ou familiares do autor do blog, que aproveitam aquele espaço para atacar, lançar boatos e revelar pormenores que de outra maneira não revelariam. No meu caso optei por deixar de escrever no blog e transformei-o em fotolog. Enquanto mantive o blog descobri coisas interessantes, inclusivé endereços de pessoas conhecidas que aproveitaram o meu espaço para se vingarem uma nas outras. Os comentários continuam abertos, mas com a nova transformação nada mais aconteceu. Será que é o cheiro a pólvora da escrita que faz incendiar os difamadores? Posted by: vnobrega at outubro 24, 2005 04:09 AM
Devo dizer que fiquei perplexo ao verificar que tinha um comentário sobre a questão lançada. Tenho notado que os jornalistas na Madeira não se manifestam de forma muito aberta sobre muitas das questões relacionadas com o desenvolvimento da actividade. Uma delas, o impacto dos blogs no jornalismo e na sociedade. Uma resposta à tua pergunta: quem incedeia os difamadores são aqueles sedentos de intriga, de névoa e os "garimpeiros" de segredos... Enfim, uma sociedade mesquinha que prefere deambular pela vida dos outros sem olhar os espelhos que tem em casa. Um blog, mesmo que individual, deve ter a preocupação de contribuir para uma sociedade mais esclarecida... Não é esse um dos destinos do jornalismo? ... Pois, já são muitos os blogs que fazem tão bom ou melhor jornalismo que as páginas dos jornais, as reportagens televisivas ou os flashs radiofónicos... E o debate deve, a meu ver concentrar-se nesta mudança de paradigma. Afinal, qual será o papel da comunicação tradicional quando os blogs, os sites ou outros mecanismos ao nível das novas tecnologias tomarem a dianteira? Marco Freitas Posted by: Marco Freitas at outubro 31, 2005 09:59 PM
publicado por Marco Freitas às 22:47

Não posso ter uma opinião insenta sob os blogs. Primeiro, porque produzo e alimento um blog e, segundo, porque não há opiniões isentas, sem direcção.

Quando li no outro dia um artigo de opinião intitulado “Bloguistas difamadores” vislumbrei um preocupação da autora sobre os efeitos deste novo mecanismo de comunicação. Genuína... Sem dúvida!

Mas será que a análise dos efeitos do “mundo blog” justifica o menosprezo pela questão de princípio: a da sua existência?

A interessante descrição das potencialidades e riscos da utilização dos blogs, feita na primeira parte do artigo - onde se detecta o espaço de liberdade que este instrumento de informação permite -, não entronca com o ataque desferido àqueles que utilizam os blogs com fins menos claros, sob anonimato.

Senti incluso um apelo à defesa de um discurso entrencheirado em padrões ditos normais, condicionado por regras socialmente aceites, e, obviamente, sujeito a um auto-controlo comportamental que roça amiúde a hipocrisia.

A liberdade de expressão e de manifestação de ideias é tão válida para a imprensa como para os blogs. Antes dos blogs já tinhamos jornais de toda a espécie, para todos os públicos e com políticas editoriais as mais díspares possíveis, encorporando objectivos diferentes, defendendo causas, interesses e usando da sátira.

Os blogs não carregam consigo qualquer função que incentive de per si uma vontade ou intenção de prejudicar terceiros. São de facto um instrumento de comunicação, um veículo informativo que, a exemplo de outros, encorpora a boa ou má-vontade dos autores e participantes. É destes que a nossa preocupação deve cuidar.

Defender a liberdade implica querer correr riscos. Aceitar a liberdade implica aceitar que esta é um processo que aprende com o aperfeiçoamento da relação dicotómica entre o bom e o mau, entre a verdade e a mentira, a transparência e o segredo, entre a circulação aberta da informação e os actos encapuçados de censura.
A perspectiva defendida pela autora do texto a que me refiro é comprensível mas os ataques infudados a que se refere ficam sem identificação, sem a idêntica clareza que solicita aos anónimos.

Antes de se tirar conclusões precipitadas há muitas questões para colocar sobre este tema.
Há bons e maus blogs ou só blogs? Do ponto de vista do consumidor informativo, qual a diferença entre uma informação divulgada por um bloguista anónimo e aquela que um jornalista redige protegendo a pretensa credibilidade da informação sob a capa do anonimato da fonte?
Porque é que os blogs estão a ganhar terreno ao jornalismo formal e tradicional? Será que a confiança na informação transmitida pelos meios tradicionais está a diminuir?

Ao abrigo de várias teorias, princípios e interesses, os media tradicionais também não possibilitam o destilar de ódios e faltas de respeito por terceiros?

O jornalismo ainda não é uma prática profissional madura. Todos sabem disso mas a maioria não o admite... O jornalismo é um espaço de comunicação em constante evolução e adaptação. Então porque exigir dos bloguistas aquilo que um jornalista ainda não logrou alcançar?

Espero contribuir para uma reflexão séria sobre este assunto, sugerindo algumas passagens do livro “Nós, os media” de Dan Gilmor:

“De muitos para muitos, de alguns para alguns. Nestes dois casos e em todos os outros, o blogue é o meio de comunicação.”

“(blogue)... é um jornal online, composto de hiperligações e apontamentos em ordem cronológica invertida, o que quer dizer que o apontamento mais recente é o que ocupa o topo da página.”

“Será possível que a liberdade editorial absoluta conduza apenas ao caos?”

“A cobertura de importante eventos por jornalistas não profissionais é apenar uma parte da questão. O que também interessa é o facto de as pessoas teram oportunidade de falar. É um dos mais saudáveis melhoramentos nos media desde há muito tempo. Estamos a ouvir novasz vozes – não necessariamente de individuos que desejam ganhar a vida a falar em público, mas de pessoas que pretendem dizer o que pensam e o que ouviram, mesmo que só possam falar para uns poucos”.

autor identificado pelo "astrisco"


Posted by astrisco.comunicar at outubro 19, 2005 05:47 PM

Comments
O problema está mais nos comentários do que propriamente no conteúdo dos blogs. As ofensas, nos ditos posts, são mais que muitas e quase sempre sob a capa do anonimato. O remédio está em vigiar os IP's; pois normalmente os anónimos acabam por revelar-se em comentários mais brandos. É um trabalho moroso mas difícil especialmente para os autores dos blog's com poucos conhecimentos de informática. Estudos recentes revelam que grande parte dos difamadores através de post's são amigos, colegas de trabalho ou familiares do autor do blog, que aproveitam aquele espaço para atacar, lançar boatos e revelar pormenores que de outra maneira não revelariam. No meu caso optei por deixar de escrever no blog e transformei-o em fotolog. Enquanto mantive o blog descobri coisas interessantes, inclusivé endereços de pessoas conhecidas que aproveitaram o meu espaço para se vingarem uma nas outras. Os comentários continuam abertos, mas com a nova transformação nada mais aconteceu. Será que é o cheiro a pólvora da escrita que faz incendiar os difamadores? Posted by: vnobrega at outubro 24, 2005 04:09 AM
Devo dizer que fiquei perplexo ao verificar que tinha um comentário sobre a questão lançada. Tenho notado que os jornalistas na Madeira não se manifestam de forma muito aberta sobre muitas das questões relacionadas com o desenvolvimento da actividade. Uma delas, o impacto dos blogs no jornalismo e na sociedade. Uma resposta à tua pergunta: quem incedeia os difamadores são aqueles sedentos de intriga, de névoa e os "garimpeiros" de segredos... Enfim, uma sociedade mesquinha que prefere deambular pela vida dos outros sem olhar os espelhos que tem em casa. Um blog, mesmo que individual, deve ter a preocupação de contribuir para uma sociedade mais esclarecida... Não é esse um dos destinos do jornalismo? ... Pois, já são muitos os blogs que fazem tão bom ou melhor jornalismo que as páginas dos jornais, as reportagens televisivas ou os flashs radiofónicos... E o debate deve, a meu ver concentrar-se nesta mudança de paradigma. Afinal, qual será o papel da comunicação tradicional quando os blogs, os sites ou outros mecanismos ao nível das novas tecnologias tomarem a dianteira? Marco Freitas Posted by: Marco Freitas at outubro 31, 2005 09:59 PM
publicado por Marco Freitas às 22:44

Outubro 2005
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
10
11
12
13
14
15

16
17
18
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30


Subscrever por e-mail

A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.

subscrever feeds
Sobre mim e autores
pesquisar
 
links
blogs SAPO