Não posso ter uma opinião insenta sob os blogs. Primeiro, porque produzo e alimento um blog e, segundo, porque não há opiniões isentas, sem direcção.
Quando li no outro dia um artigo de opinião intitulado Bloguistas difamadores vislumbrei um preocupação da autora sobre os efeitos deste novo mecanismo de comunicação. Genuína... Sem dúvida!
Mas será que a análise dos efeitos do mundo blog justifica o menosprezo pela questão de princípio: a da sua existência?
A interessante descrição das potencialidades e riscos da utilização dos blogs, feita na primeira parte do artigo - onde se detecta o espaço de liberdade que este instrumento de informação permite -, não entronca com o ataque desferido àqueles que utilizam os blogs com fins menos claros, sob anonimato.
Senti incluso um apelo à defesa de um discurso entrencheirado em padrões ditos normais, condicionado por regras socialmente aceites, e, obviamente, sujeito a um auto-controlo comportamental que roça amiúde a hipocrisia.
A liberdade de expressão e de manifestação de ideias é tão válida para a imprensa como para os blogs. Antes dos blogs já tinhamos jornais de toda a espécie, para todos os públicos e com políticas editoriais as mais díspares possíveis, encorporando objectivos diferentes, defendendo causas, interesses e usando da sátira.
Os blogs não carregam consigo qualquer função que incentive de per si uma vontade ou intenção de prejudicar terceiros. São de facto um instrumento de comunicação, um veículo informativo que, a exemplo de outros, encorpora a boa ou má-vontade dos autores e participantes. É destes que a nossa preocupação deve cuidar.
Defender a liberdade implica querer correr riscos. Aceitar a liberdade implica aceitar que esta é um processo que aprende com o aperfeiçoamento da relação dicotómica entre o bom e o mau, entre a verdade e a mentira, a transparência e o segredo, entre a circulação aberta da informação e os actos encapuçados de censura.
A perspectiva defendida pela autora do texto a que me refiro é comprensível mas os ataques infudados a que se refere ficam sem identificação, sem a idêntica clareza que solicita aos anónimos.
Antes de se tirar conclusões precipitadas há muitas questões para colocar sobre este tema.
Há bons e maus blogs ou só blogs? Do ponto de vista do consumidor informativo, qual a diferença entre uma informação divulgada por um bloguista anónimo e aquela que um jornalista redige protegendo a pretensa credibilidade da informação sob a capa do anonimato da fonte?
Porque é que os blogs estão a ganhar terreno ao jornalismo formal e tradicional? Será que a confiança na informação transmitida pelos meios tradicionais está a diminuir?
Ao abrigo de várias teorias, princípios e interesses, os media tradicionais também não possibilitam o destilar de ódios e faltas de respeito por terceiros?
O jornalismo ainda não é uma prática profissional madura. Todos sabem disso mas a maioria não o admite... O jornalismo é um espaço de comunicação em constante evolução e adaptação. Então porque exigir dos bloguistas aquilo que um jornalista ainda não logrou alcançar?
Espero contribuir para uma reflexão séria sobre este assunto, sugerindo algumas passagens do livro Nós, os media de Dan Gilmor:
De muitos para muitos, de alguns para alguns. Nestes dois casos e em todos os outros, o blogue é o meio de comunicação.
(blogue)... é um jornal online, composto de hiperligações e apontamentos em ordem cronológica invertida, o que quer dizer que o apontamento mais recente é o que ocupa o topo da página.
Será possível que a liberdade editorial absoluta conduza apenas ao caos?
A cobertura de importante eventos por jornalistas não profissionais é apenar uma parte da questão. O que também interessa é o facto de as pessoas teram oportunidade de falar. É um dos mais saudáveis melhoramentos nos media desde há muito tempo. Estamos a ouvir novasz vozes não necessariamente de individuos que desejam ganhar a vida a falar em público, mas de pessoas que pretendem dizer o que pensam e o que ouviram, mesmo que só possam falar para uns poucos.
autor identificado pelo "astrisco"
Posted by astrisco.comunicar at outubro 19, 2005 05:47 PM
Comments
O problema está mais nos comentários do que propriamente no conteúdo dos blogs. As ofensas, nos ditos posts, são mais que muitas e quase sempre sob a capa do anonimato. O remédio está em vigiar os IP's; pois normalmente os anónimos acabam por revelar-se em comentários mais brandos. É um trabalho moroso mas difícil especialmente para os autores dos blog's com poucos conhecimentos de informática. Estudos recentes revelam que grande parte dos difamadores através de post's são amigos, colegas de trabalho ou familiares do autor do blog, que aproveitam aquele espaço para atacar, lançar boatos e revelar pormenores que de outra maneira não revelariam. No meu caso optei por deixar de escrever no blog e transformei-o em fotolog. Enquanto mantive o blog descobri coisas interessantes, inclusivé endereços de pessoas conhecidas que aproveitaram o meu espaço para se vingarem uma nas outras. Os comentários continuam abertos, mas com a nova transformação nada mais aconteceu. Será que é o cheiro a pólvora da escrita que faz incendiar os difamadores? Posted by: vnobrega at outubro 24, 2005 04:09 AM
Devo dizer que fiquei perplexo ao verificar que tinha um comentário sobre a questão lançada. Tenho notado que os jornalistas na Madeira não se manifestam de forma muito aberta sobre muitas das questões relacionadas com o desenvolvimento da actividade. Uma delas, o impacto dos blogs no jornalismo e na sociedade. Uma resposta à tua pergunta: quem incedeia os difamadores são aqueles sedentos de intriga, de névoa e os "garimpeiros" de segredos... Enfim, uma sociedade mesquinha que prefere deambular pela vida dos outros sem olhar os espelhos que tem em casa. Um blog, mesmo que individual, deve ter a preocupação de contribuir para uma sociedade mais esclarecida... Não é esse um dos destinos do jornalismo? ... Pois, já são muitos os blogs que fazem tão bom ou melhor jornalismo que as páginas dos jornais, as reportagens televisivas ou os flashs radiofónicos... E o debate deve, a meu ver concentrar-se nesta mudança de paradigma. Afinal, qual será o papel da comunicação tradicional quando os blogs, os sites ou outros mecanismos ao nível das novas tecnologias tomarem a dianteira? Marco Freitas Posted by: Marco Freitas at outubro 31, 2005 09:59 PM
publicado por Marco Freitas às 22:47
Não posso ter uma opinião insenta sob os blogs. Primeiro, porque produzo e alimento um blog e, segundo, porque não há opiniões isentas, sem direcção.
Quando li no outro dia um artigo de opinião intitulado Bloguistas difamadores vislumbrei um preocupação da autora sobre os efeitos deste novo mecanismo de comunicação. Genuína... Sem dúvida!
Mas será que a análise dos efeitos do mundo blog justifica o menosprezo pela questão de princípio: a da sua existência?
A interessante descrição das potencialidades e riscos da utilização dos blogs, feita na primeira parte do artigo - onde se detecta o espaço de liberdade que este instrumento de informação permite -, não entronca com o ataque desferido àqueles que utilizam os blogs com fins menos claros, sob anonimato.
Senti incluso um apelo à defesa de um discurso entrencheirado em padrões ditos normais, condicionado por regras socialmente aceites, e, obviamente, sujeito a um auto-controlo comportamental que roça amiúde a hipocrisia.
A liberdade de expressão e de manifestação de ideias é tão válida para a imprensa como para os blogs. Antes dos blogs já tinhamos jornais de toda a espécie, para todos os públicos e com políticas editoriais as mais díspares possíveis, encorporando objectivos diferentes, defendendo causas, interesses e usando da sátira.
Os blogs não carregam consigo qualquer função que incentive de per si uma vontade ou intenção de prejudicar terceiros. São de facto um instrumento de comunicação, um veículo informativo que, a exemplo de outros, encorpora a boa ou má-vontade dos autores e participantes. É destes que a nossa preocupação deve cuidar.
Defender a liberdade implica querer correr riscos. Aceitar a liberdade implica aceitar que esta é um processo que aprende com o aperfeiçoamento da relação dicotómica entre o bom e o mau, entre a verdade e a mentira, a transparência e o segredo, entre a circulação aberta da informação e os actos encapuçados de censura.
A perspectiva defendida pela autora do texto a que me refiro é comprensível mas os ataques infudados a que se refere ficam sem identificação, sem a idêntica clareza que solicita aos anónimos.
Antes de se tirar conclusões precipitadas há muitas questões para colocar sobre este tema.
Há bons e maus blogs ou só blogs? Do ponto de vista do consumidor informativo, qual a diferença entre uma informação divulgada por um bloguista anónimo e aquela que um jornalista redige protegendo a pretensa credibilidade da informação sob a capa do anonimato da fonte?
Porque é que os blogs estão a ganhar terreno ao jornalismo formal e tradicional? Será que a confiança na informação transmitida pelos meios tradicionais está a diminuir?
Ao abrigo de várias teorias, princípios e interesses, os media tradicionais também não possibilitam o destilar de ódios e faltas de respeito por terceiros?
O jornalismo ainda não é uma prática profissional madura. Todos sabem disso mas a maioria não o admite... O jornalismo é um espaço de comunicação em constante evolução e adaptação. Então porque exigir dos bloguistas aquilo que um jornalista ainda não logrou alcançar?
Espero contribuir para uma reflexão séria sobre este assunto, sugerindo algumas passagens do livro Nós, os media de Dan Gilmor:
De muitos para muitos, de alguns para alguns. Nestes dois casos e em todos os outros, o blogue é o meio de comunicação.
(blogue)... é um jornal online, composto de hiperligações e apontamentos em ordem cronológica invertida, o que quer dizer que o apontamento mais recente é o que ocupa o topo da página.
Será possível que a liberdade editorial absoluta conduza apenas ao caos?
A cobertura de importante eventos por jornalistas não profissionais é apenar uma parte da questão. O que também interessa é o facto de as pessoas teram oportunidade de falar. É um dos mais saudáveis melhoramentos nos media desde há muito tempo. Estamos a ouvir novasz vozes não necessariamente de individuos que desejam ganhar a vida a falar em público, mas de pessoas que pretendem dizer o que pensam e o que ouviram, mesmo que só possam falar para uns poucos.
autor identificado pelo "astrisco"
Posted by astrisco.comunicar at outubro 19, 2005 05:47 PM
Comments
O problema está mais nos comentários do que propriamente no conteúdo dos blogs. As ofensas, nos ditos posts, são mais que muitas e quase sempre sob a capa do anonimato. O remédio está em vigiar os IP's; pois normalmente os anónimos acabam por revelar-se em comentários mais brandos. É um trabalho moroso mas difícil especialmente para os autores dos blog's com poucos conhecimentos de informática. Estudos recentes revelam que grande parte dos difamadores através de post's são amigos, colegas de trabalho ou familiares do autor do blog, que aproveitam aquele espaço para atacar, lançar boatos e revelar pormenores que de outra maneira não revelariam. No meu caso optei por deixar de escrever no blog e transformei-o em fotolog. Enquanto mantive o blog descobri coisas interessantes, inclusivé endereços de pessoas conhecidas que aproveitaram o meu espaço para se vingarem uma nas outras. Os comentários continuam abertos, mas com a nova transformação nada mais aconteceu. Será que é o cheiro a pólvora da escrita que faz incendiar os difamadores? Posted by: vnobrega at outubro 24, 2005 04:09 AM
Devo dizer que fiquei perplexo ao verificar que tinha um comentário sobre a questão lançada. Tenho notado que os jornalistas na Madeira não se manifestam de forma muito aberta sobre muitas das questões relacionadas com o desenvolvimento da actividade. Uma delas, o impacto dos blogs no jornalismo e na sociedade. Uma resposta à tua pergunta: quem incedeia os difamadores são aqueles sedentos de intriga, de névoa e os "garimpeiros" de segredos... Enfim, uma sociedade mesquinha que prefere deambular pela vida dos outros sem olhar os espelhos que tem em casa. Um blog, mesmo que individual, deve ter a preocupação de contribuir para uma sociedade mais esclarecida... Não é esse um dos destinos do jornalismo? ... Pois, já são muitos os blogs que fazem tão bom ou melhor jornalismo que as páginas dos jornais, as reportagens televisivas ou os flashs radiofónicos... E o debate deve, a meu ver concentrar-se nesta mudança de paradigma. Afinal, qual será o papel da comunicação tradicional quando os blogs, os sites ou outros mecanismos ao nível das novas tecnologias tomarem a dianteira? Marco Freitas Posted by: Marco Freitas at outubro 31, 2005 09:59 PM
publicado por Marco Freitas às 22:44
Não posso ter uma opinião insenta sob os blogs. Primeiro, porque produzo e alimento um blog e, segundo, porque não há opiniões isentas, sem direcção.
Quando li no outro dia um artigo de opinião intitulado Bloguistas difamadores vislumbrei um preocupação da autora sobre os efeitos deste novo mecanismo de comunicação. Genuína... Sem dúvida!
Mas será que a análise dos efeitos do mundo blog justifica o menosprezo pela questão de princípio: a da sua existência?
A interessante descrição das potencialidades e riscos da utilização dos blogs, feita na primeira parte do artigo - onde se detecta o espaço de liberdade que este instrumento de informação permite -, não entronca com o ataque desferido àqueles que utilizam os blogs com fins menos claros, sob anonimato.
Senti incluso um apelo à defesa de um discurso entrencheirado em padrões ditos normais, condicionado por regras socialmente aceites, e, obviamente, sujeito a um auto-controlo comportamental que roça amiúde a hipocrisia.
A liberdade de expressão e de manifestação de ideias é tão válida para a imprensa como para os blogs. Antes dos blogs já tinhamos jornais de toda a espécie, para todos os públicos e com políticas editoriais as mais díspares possíveis, encorporando objectivos diferentes, defendendo causas, interesses e usando da sátira.
Os blogs não carregam consigo qualquer função que incentive de per si uma vontade ou intenção de prejudicar terceiros. São de facto um instrumento de comunicação, um veículo informativo que, a exemplo de outros, encorpora a boa ou má-vontade dos autores e participantes. É destes que a nossa preocupação deve cuidar.
Defender a liberdade implica querer correr riscos. Aceitar a liberdade implica aceitar que esta é um processo que aprende com o aperfeiçoamento da relação dicotómica entre o bom e o mau, entre a verdade e a mentira, a transparência e o segredo, entre a circulação aberta da informação e os actos encapuçados de censura.
A perspectiva defendida pela autora do texto a que me refiro é comprensível mas os ataques infudados a que se refere ficam sem identificação, sem a idêntica clareza que solicita aos anónimos.
Antes de se tirar conclusões precipitadas há muitas questões para colocar sobre este tema.
Há bons e maus blogs ou só blogs? Do ponto de vista do consumidor informativo, qual a diferença entre uma informação divulgada por um bloguista anónimo e aquela que um jornalista redige protegendo a pretensa credibilidade da informação sob a capa do anonimato da fonte?
Porque é que os blogs estão a ganhar terreno ao jornalismo formal e tradicional? Será que a confiança na informação transmitida pelos meios tradicionais está a diminuir?
Ao abrigo de várias teorias, princípios e interesses, os media tradicionais também não possibilitam o destilar de ódios e faltas de respeito por terceiros?
O jornalismo ainda não é uma prática profissional madura. Todos sabem disso mas a maioria não o admite... O jornalismo é um espaço de comunicação em constante evolução e adaptação. Então porque exigir dos bloguistas aquilo que um jornalista ainda não logrou alcançar?
Espero contribuir para uma reflexão séria sobre este assunto, sugerindo algumas passagens do livro Nós, os media de Dan Gilmor:
De muitos para muitos, de alguns para alguns. Nestes dois casos e em todos os outros, o blogue é o meio de comunicação.
(blogue)... é um jornal online, composto de hiperligações e apontamentos em ordem cronológica invertida, o que quer dizer que o apontamento mais recente é o que ocupa o topo da página.
Será possível que a liberdade editorial absoluta conduza apenas ao caos?
A cobertura de importante eventos por jornalistas não profissionais é apenar uma parte da questão. O que também interessa é o facto de as pessoas teram oportunidade de falar. É um dos mais saudáveis melhoramentos nos media desde há muito tempo. Estamos a ouvir novasz vozes não necessariamente de individuos que desejam ganhar a vida a falar em público, mas de pessoas que pretendem dizer o que pensam e o que ouviram, mesmo que só possam falar para uns poucos.
autor identificado pelo "astrisco"
publicado por Marco Freitas às 17:47
Terminou mais uma campanha eleitoral. Como sempre o período que antecede o dia das eleições é preenchido por uma panóplia de estratégias e de suportes que ao dispôr dos partidos ou candidatos têm como objectivo transmitir uma mensagem política para convencer os eleitores riscarem determinado quadrado.
Se, porventura, a crise económica que o país vive fazia prever uma campanha desprovida de grandes meios de propaganda - até porque se trata de uma campanha local - a verdade é que sem excepção e um pouco por todo o lado vimos os partidos abrirem os cordões à bolsa. Uma atitude que as agências de publicidade e de comunicação agradecem.
É o conteúdo das campanhas que influencia de forma decisiva um voto. As estratégias organziadas de comunicação, os slogans, os cartazes, as acções de rua, são iniciativas e suportes importantes mas não passam de meras ajudas para a decisão. Uma conversa face-a- face com um eleitor, um discurso bem conseguido e coerente, um debate sério, são, no meu ponto de vista, formas fundamentais para convencer um eleitor.
O retorno de uma campanha de propaganda politica só é dado no dia das eleições (às vezes não morre no dia das eleições). É nesta altura que são levantadas todas as questões sobre a estratégia seguida: o excesso de informação e de propostas é benéfico?; valeu a pena gastar tanto dinheiro em cartazes, pequenos, médios e enormes?; qual o contributo do recurso às novas tecnologias e à NET?; qual o efeito directo que os jornais e panfletos de campanha tiveram no esforço de convencer um eleitor?; o discurso foi coerente ou revelou hesitações, contradições?; a campanha foi orientada para os eleitores ou para a comunicação social;? Os tópicos políticos seleccionados foram os ideais?; os comícios ainda têm lugar nos dias de hoje?.
Vi, num debate televiso, um comentador questionar a forma como se faz propaganda política em Portugal (quando o próprio é considerado um dos estrategas mais ferozes neste campo).
Concordo que as campanhas produzidas em Portugal deixam muita a desejar, são muito pouco esclarecedoras e, acima de tudo, procuram valorizar os "factos diversos" do que o verdadeiro conteúdo das propostas.
Há muito que discutir neste âmbito e todos nós podemos contribuir de forma activa para a melhoria do discurso político.
*astrisco* - mpf
publicado por Marco Freitas às 13:37