Comunicar pode ser fácil... Se no tempo que a vida nos permite procurarmos transmitir o essencial, desvalorizar o acessório e contribuir, num segundo que seja, para que a mensagem se assuma como tal e não como um universo de segredos...

31
Ago 05
Depois de muito penar e de se ter procurado muitos bodes expiatórios para atribuir culpados e encontrar justificação para os incêndios que foram deflagrando neste Verão por todo o país, chegou a altura de encontrar na comunicação social e na cobertura que fizeram sobre o assunto razões de culpa.

Como muitos portugueses estive de férias e por essa razão perdi algumas das discussões que aconteceram. Ainda assim, consegui perceber que a comunicação social é acusada de incitar comportamentos pirómanos e de captar que houve quem defenda que a cobertura deveria ter tido outros contornos, pasme-se, que mostrassem "menos chamas" nos ecrãs.

E a comunicação social entrou neste debate, provocado pelos senhores do costume, como se a causa principal dos fogos estivesse na exposição pública dos mesmos.

Sobre isto, o que acho que devo dizer é o seguinte:

1 - É sempre positivo discutir e analisar a cobertura que os media fazem de determinado assunto, desde que essa discussão não tenha sido provocada para criar mecanismos de censura.

2- A entrega dos profissionais e dos meios de comunicação social a estas discussões tem duas vertentes: uma de ingenuidade, onde se vê lançarem-se num debate sem matéria que sustente o mesmo e uma outra vertente mais maliciosa onde se verifica que apesar de faltar razões e documentação os media alimentam o debate por motivos de audiência.
O público tem de aprender a diferenciar o que está subjacente a estes debates.

3 - Não acham estranho - o público e os jornalistas - que quando não há culpados evidentes ou quando se quer desviar responsabilidades a comunicação social seja envolvida no debate e acusada de alimentar polémicas desnecessárias?

4 - Há que terminar com as tentativas encapuçadas de impôr aos jornalistas uma auto-censura, um controlo de informação em prol do bem comum. Concordo que esse controlo deva existir mas a iniciativa deve ser única e exclusivamente dos autores das notícias e dos meios que representam. Isto não significa que a opinião pública não possa expressar-se sobre a informação que gostava de ver tratada pelos media.

5 - Por fim, compreendendo e aceitando que se coloque nos pratos da balança a informação desregrada e uma informação controlada, até prova em contrário não há razões de maior que justifiquem qualquer mecanismo de censura em prol do bme comum. Até ver prefiro ter uma informação desregrada, onde se pode, inteligentemente e com atenção, selecionar a verdade, do que um sistema onde a informação é propositadamente escolhida, reduzindo a liberdade de escolha e o número de dados para tomarmos decisões sobre a informação que recebemos.

Marco Freitas

Caro Astrisco, I'M BAAAACK!!!! Pois é, após um longo....dois meses....de ausência nestas andanças, só queria dar a minha ligeira e simples opinião sobre esta questão dos fogos!!! Como jornalista,~sendo um "soldado raso", faço tudo o que meus superiores hierárquicos pedem...com excepção de coisas absurdas, do tipo dizer que o "SR.José matou a D.Maria por ciúme do Espirito Santo..."!!! Passe a grande (imensa!!!) exacerbação, confesso que apesar de estar a trabalhar em pleno Verão e sendo um devorador de informação, chocou-me tanto a cobertura abusiva, diga-se, destes incêndios que lavraram pelo País, que por diversas vezes passei para outro canal, sintonizei outra rádio e folheei outra página de jornal só para não ler o que já lera noutros anos, uma espécie de "dejá-vu"!!!! Se houve exageros, talvez pelo "calor" do momento alguns jornalistas tenham cometido os mesmos erros que já vimos noutras ocasiões (e do quais a memória que mais me entristece, pois estive em cima do acontecimento, foi em 2001, no caso Entre-os-Rios...algumas intervenções do tipo "então minha senhora, o que é que sente por toda esta situação de ver um parente seu a ser retirado de um autocarro afundado num rio?! - mais uma vez estou no exagero! mas, mais coisa menos coisa, aconteceu disto!!!). O que para o meu modesto entender é exagerado não é a entrega dos jornalistas à causa dos fogos, tentando descrevê-lo ao máximo pormenor, chegando ao ponto de dar voz à angústia de gente que tenta salvar seus bens....AQUI, meus amigos é que está o mal!!! Exploração da miséria humana....feita em tempo real, em directo, sem tempo de pesar os prós e os contras da publicação...tal como acontece nos jornais, onde o jornalista pode recolher toda a informação mas só a trasncreve se entender por bem fazê-lo!!! Na televisão, os repórteres vão à procura das emoções, do que costumo dizer "SANGUE, SUOR e LÁGRIMAS....fazendo o papel do NOSTRADAMUS, o Profeta da Desgraça!!! Por outro lado, creio que temos neste contexto da culpabilização da cobertura mediática dos fogos, uma desculpabilização dos verdadeiros culpados....TODOS...a começar pelos políticos, a acabar nos juízes...os primeiros, não aplicam as leis por demais revistas e sabidas, não implementam medidas, apesar dos dinheiros disponíveis, não cuidam da floresta dos outros, quanto mais das do Estado! E, entretanto, vão culpabilizando os que lá estão, sabendo eles que também já lá estiveram e não alteraram o "Estado das Coisas"!!! O problema é a politiquice que só dá para pensarem no futuro tacho, em vez de pensarem no futuro dos portugueses, de Portugal!!! Os segundos, por simplesmente continuarem a "olhar" o País do alto do seu pedestal, fazendo precisamente aquilo que a figura emblemática da Justiça faz....tapam a cara com um lenço e tentam acertar no alvo.....onde é que estão as penas exemplares aos incendiários, não só os pirómanos como aos que não cuidam da floresta?! ONDE?! Curioso é que, precisamente nesta altura dos fogos, estão os senhores doutores juízes de férias, de papo para o ar (salvo as excepções exemplares)....e têm o desplante de reclamar pelo período (excessivo de férias judiciais) que o Governo os quer tirar...se já não os tirou....Podem até ter razão nalguns pontos, mas tal como alguns "profissinais da treta", que só querem férias e descanso, trabalhando o ano todo a pensar nas férias e quando chegam das (merecidas?!) féríias começam a pensar no próximo período de férias, os doutores juízes precisam pensar mais no País e menos no seu período de trabalho de escritório, para tratarem da papelada....algo que não cabe aos juízes....esses que devem estar aonde são necessários...na barra do Tribunal!!! Mai'nada!!! Sinceramente..... Não sei porquê é que dizem que este País não tem remendo!!! Eu acho que tem....não tenho a solução porque não sou nenhum São Sebastião que irá aparecer numa manhã de nevoeiro.... Na minha terra natal, Cabo Verde, temos uma frase típica (que também já não é aplicada pelas novas gerações mas era arma de guerra nos tempos da guerra colonial, após a revolução de Abril e no pós-independência em 1975): NU TXUNTA MOM, NU COMPU NÔS TERA (aportguesando....Juntemos as nossas mãos, melhoremos a nossa terra!!!)...CAPICE?! E eu a dizer que não ia escrever muito.... Bem, fico por aqui!!! Espero não ter sido muito...sei lá, o que quiserem me chamar!!! Um abraço e até à próxima!!! Francisco Cardoso Posted by: Francisco Cardoso at setembro 7, 2005 09:11 PM
publicado por Marco Freitas às 20:13

09
Ago 05
“Novo ataque a Marcelo” é o título de uma notícia do Expresso que relatava a tentativa de um jornalista de suspender “As escolhas de Marcelo” na RTP, através de uma providência cautelar, questionando o interesse editorial do programa e atribuindo interesses pessoais ao comentador. Curiosamente, ou não, na mesma página uma caixa anunciava a participação de António Vitorino, também na RTP, num programa em tudo semelhante.

O sugestivo título da supra mencionada notícia apelou à memória daqueles dias conturbados que envolveram a saída do comentador da TVI.

Decidi retirar do bau dos recortes o conjunto de textos sobre essa tempestade e tomei algumas notas na tentativa de perceber o que podemos aprender com a histeria gerada na altura. São notas simples e despretensiosas de quem espera mais deste País.


Primeira nota
Entre os dias 7 de Outubro e 13 de Novembro recolhi quatro dezenas de artigos e notícias sobre o tema, encontrados em jornais nacionais como o Público, o Diário de Notícias, o Expresso, o Diário Económico, o Independente, o Diário Digital, o Jornal de Notícias e o Semanário Económico. Também encontrei notícias em jornais regionais e, infelizmente, não tive capacidade de registar o que se disse nas rádios e nas televisões. Um turbilhão de ideias perspassou por todos os meios de comunicação, desde os mais tradicionais e locais aos mais tecnológicos e globalizados.

Segunda nota
Na sua esmagadora maioria, os títulos revelaram uma imaginação vértil no esforço de exprimir as perspectivas que surgiram sobre a questão Marcelo. Liberdade, golpes, circo, conspiração e censura são algumas das expressões que ficaram registadas nos títulos daquela altura e que traduzem a sofreguidão literária que imperou.
Registei alguns títulos com interesse: o Diário Económico de 7 de Outubro de 2004 questionava “Quanto vale o professor em audiências e receitas publicitárias”; o Independente de 8 de Outubro acrescentava “Para compreender Marcelo”; enquanto o Diário Digital do mesmo dia, apontava “Os censores de serviço”. Também no dia 8, o Público alertava para “O preço da liberdade” e para o “ Golpe de estado mediático”; o Expresso do dia nove do mesmo mês caracterizava a situação como “Um número de circo”.

Terceira nota
Como já é habitual, o painel de comentadores residentes lançou-se num frenesim de debates, alimentando discussões, gerando polémicas, estabelecendo regras para o jogo público da informação sobre o tema em particular e a comunicação social em geral. Uma vez por outra foram realmente interessantes, acutilantes, mas, no geral, traduziram os interesses instalados no sector da comunicação social. A lista de nomes registada é pequena em relação ao efectivo número de individualidades que de facto apareceram em toda a comunicação social. Eis alguns dos participantes activos daqueles dias frenéticos: Paulo Baldaia, Vasco Pulido Valente, Vicente Jorge Silva, António Luís Machado, João de Almeida Santos, Luís Delgado, Mário Bettendourt Resendes, Nuno Rogeiro, Miguel Sousa Tavares, Eduardo Prado Coelho, Francisco Teixeira da Mota, José António Saraiva, Clara Ferreira Alves.

Quarta nota
Passado este tempo todo, não tendo existido alterações substanciais no panorama da comunicação social nacional, como alguns dos comentadores então reclamaram, no meu ponto de vista, há um conjunto de questões que permanecem sem resposta: será que a maioria dos comentadores, em consciência, manteriam o que disseram sobre o tema; têm consciência que foram parte activa “do circo” que se gerou à volta de Marcelo? Terão a noção de que não contribuiram para o esclerecimento da “questão Marcelo” mas para o amamentar de egos mediáticos e manifestações intriguistas à boa moda da política e sociedade nacional? Não sabiam que tanto ruído em nada contribuiria para a solução das verdadeiras problemáticas associadas à questão Marcelo?

Quinta nota
João de Almeida Santos, no Diário Económico de 8 de Outubro de 2004, enfatizando que Marcelo não é jornalista e não faz jornalismo - logo não está obrigado ao regime do contraditório -, fez um breve registo da imprensa. Um exercício que vale a pena reproduzir:
No dia que se seguiu ao anúncio analisou sete jornais (Público, DN, JN, Correio da Manhã, 24 horas, A Capital e o DE). Destes, cinco fizeram manchete, seis dedicaram os editoriais e, no global, publicaram mais de 60 artigos, entre notícias, comentários e notas. Foram ocupadas cerca de 24 páginas completas, situando-se a esmagadora maioria dos textos nas primeiras 8 páginas.
Quanto às três televisões, RTP SIC e TVI, o autor sublinhou que até fizeram directos de Belém. No universo do online, realçou o artigo do Le Monde Online que dedicou 31 linhas ao assunto.

Sexta nota
Afinal o que se disse nesse período aparentemente tão conturbado da nossa vida nacional?!!!
a) A associação do poder mediático ao político e vice-versa foi uma das temáticas em maior destaque e Pacheco Pereira, entre muitos outros aspectos, frisou num dos seus artigos o seguinte: “Os políticos que estão neste momento no poder no PSD (no PS e no PP) fizeram uma parte muito importante da sua carreira na comunicação social. É normal que assim seja, porque hoje a maioria das carreiras políticas implicam uma relação muito próxima com os “media”. Não é uma regra absoluta, mas as excepções só a confirmam”.

b) Vasco Pulido Valente, à sua maneira, foi bastante longe nas suas críticas e análises. “Na própria TVI falta ainda Miguel Sousa Tavares (que suponho, e espero, marchará para casa pelo seu próprio pé), escreveu. E, não pareceu ter dúvidas quando afirmou que “desde que se estabeleceu a democracia em Portugal nunca se passou um caso destes”, rematando que “Marcelo é um aviso: se o liquidaram a ele, ninguém está seguro. Resta agora saber o que se vai seguir... A demissão de Marcelo ou serve para pôr um limite à interferência do Governo nos media; ou inaugura a corrupção final do regime.” Logo se vê que não tem dotes de adivinho!!!.

c) O editorial do DN do dia 8 de Outubro disse duas coisas fundamentais: “o princípio do contraditorio é um dever sagrado dos jornalistas quando elaboram notícias, mas que não é aplicado aos comentários de analistas”; e que “a tolerância é um valor fundamental em democracia e os políticos têm de saber suportar críticas”.

d)António Luís Marinho tocou num ponto chave: “A pressão do poder político sobre a comunicação social é tão velha como a existência de ambos. Ele tenta, ela resiste.” Sobre Marcelo disse que “é um prestidigitador e mestre na arte da manipulação. Os seus comentários, para além de exercícios de grande inteligência, eram verdadeiras lições de demagogia, a ‘arte de conduzir o povo’”.

c)E o que disse Vicente Jorge Silva? “Se uma voz dispõe do poder inusitado de fazer-se ouvir de forma excessivamente sugestiva e dissonante na aldeia portuguesa, os temerosos poderes públicos tocam a rebate contra o seu dom maléfico de influenciar e contaminar as almas. Como chegou essa voz a ter poder que lhe foi concedido e como chegou a vez de a quererem silenciar?”
Este comentador, disfarçando a sua opinião de uma ignorância útil, chamou ao tempo de Marcelo na TVI de “anormalidade” e atribuiu-lhe de epíteto de “formato de intervenção política televisiva sem paralelo conhecido na Europa e, até, no conjunto das democracias ocidentais, cujo protagonista goza do provilégio único de perorar – sem contraditório, acolitado por um reverente apresentador – durante a parte nobre do telejornal.

d) Apelando a alguma clarividência, Inês Serra Lopes, colocou o dedo na ferida. “Aposto que não existe um único “patrão” da comunicão que não se tenha sentido pressionado alguma vez na vida. A questão não está na existência ou inexistência de pressões. Elas são inevitáveis em Portugal, nos Estados Unidos, em Inglaterra, na Suécia e em todos os regimes, democráticos ou não. As pressões são inevitáveis sempre que se lida com o poder e se exerce com independência o direito e a liberdade de criticar o poder, de lhe apontar os vícios e as corrupções.”

e) Luís Delgado concorda quando diz que “a censura só existe na cabeça dos que a já fizeram e sabem como se faz, e numa democracia com milhares de jornalistas, centenas de orgãos de informação, sindicatos, Parlamento, Governo e Presidente da República seria obra digna de manual.” E passa ao ataque daqueles que alimentaram a teoria da conspiração: “Será que um Pacheco ou um Arons, quando dizem o que disseram, nunca perceberam que estão a ofender e a qualificar de mentecaptos e incapazes, centenas e centenas de jornalistas, que afinal se deixariam manipular, pressionar e vergar às ordens de um qualquer administrador ou director? Nao percebem que isso é um insulto grave? E os jornalistas, igualmente, também ainda não entenderam que estão a ser humilhados?”

f) Miguel Sousa Tavares, acossado ao que sucedeu com o seu parceiro no canal, e numa tentativa de marcar posição, proferiu algumas opiniões absolutamente estranhas e que confirmam o delírio que atingiu o País naqueles dias. Senão vejamos: “O grande mal português é que temos, verdadeiramente, poucos homens livres...Portugal não é, nunca foi, um país de homens livres, de homens verdadeiramente amantes da liberdade, para quem a liberdade seja tão importante como poder respirar.”
Posso até partilhar a ideia de que “a liberdade não se encontra ao virar da esquina – conquista-se, merece-se e alcança-se, por si próprio e individualmente, com riscos e com perdas, e não a coberto da protecção fácil das multidões ou das leis” e que “não há lei que possa declarar um homem livre”.
Mas, pareceu bastante menos lúcido e claramente tendencioso quando disse que “as nações de homens livres prosperam; as nações de gente subserviente definham: cada vez estamos mais próximos do México ou da Madeira e cada vez mais distantes da Espanha ou da Inglaterra.” Se Espanha e Inglaterra são assim países tão livres porque vivem aterrorizados com ataques bombistas? Esqueceu-se O ilustre comentador com certeza que esqueceu que a Madeira é, desde algum tempo, uma das regiões mais desenvolvidas de Portugal?

g) Sem surpresa, uma das opiniões mais clarividentes da época foi de José António Saraiva quando dizia que “numa sociedade de mercado, em plena Europa, nenhum governo tem possibilidade de controlar a informação. Dizer o contrário, gritar que a liberdade está em perigo em Portugal, é um insulto aos cidadãos dos países onde não há liberdade”.
E também questionava: “Mas quem é que, avctuando no espaço público, não sofre pressões?” A sua resposta diz tudo: “O problema não está, pois, nas pressões mas no modo como se lhes reage.”

Em conclusão, mesmo a esta distância, mantenho a dúvida: fomos mais longe com tanto histerismo? Resta-me a certeza que com um pouco mais de bom-senso, moderação e clarividência, a saída de Marcelo da TVI poderia ter permitido uma verdadeira discussão sobre o estado de coisas da comunicação social nacional. A verdade, é que esse nunca foi o tema-alvo daqueles dias arrebatados.
publicado por Marco Freitas às 21:38

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