Comunicar pode ser fácil... Se no tempo que a vida nos permite procurarmos transmitir o essencial, desvalorizar o acessório e contribuir, num segundo que seja, para que a mensagem se assuma como tal e não como um universo de segredos...

25
Abr 05
A pergunta lançada para debate pelo Astrisco já colheu um valioso leque de opiniões. Propositadamente ampla, a questão teve o condão de abrir espaço para outras discussões sobre os meandros da comunicação social. Apesar do conceito (legislatura) estar conotado com um ciclo político, a verdade é que a evolução e influência da política desenvolvida durante quatro anos define o percurso social, económico, cultural, educacional, desportivo e de valores de um população inteira.
O ASTRISCO pretende manter activo este debate alargado até a sua próxima publicação.
Agradecemos a todos os participantes a colaboração e fazemos um APELO a todos os outros para fazer parte deste debate. Como sempre, com sentido crítico e com seriedade.
"O ASTRISCO"

Cidadania, indiferença, abate de animais e tudo o mais relacionado com a sociedade mediática

O sentido de cidadania exigido a um jornalista é o mesmo que se exige a qualquer outro profissional de outra actividade. Nem mais nem menos! Por isso, e acrescentando a posição de destaque que um jornalista ocupa em cada momento dos nossos dias, ser jornalista não se coaduna com uma atitude social e ética de indiferença.
Se se é indiferente ao que nos rodeia, se o percurso pessoal e profissional desemboca numa postura de indiferença, como preservar os parâmetros que ajudam a definir o que está certo ou errado, justo ou injusto. Na concretização destes conceitos podemos encontrar a objectividade e a verdade da notícia.
É mais ou menos assumido que não é possível ser absolutamente objectivo e isento. Mesmo sob a capa da possível rigidez objectiva dos conteúdos muitas estratégias e interesses ganham espaço.
É no processo de busca da objectividade que o jornalismo se realiza. Portanto, num processo inteiramente subjectivo, muitas vezes pessoal. A clareza de informação e do discurso jornalístico só será alcançado na confluência de caudais emocionais, de manifestações diferentes ou coincidentes.
A minha opinião é que o olhar clínico que os media mantêm sobre a sociedade será certamente enfraquecido se a indiferença for a atitude reinante entre os jornalistas ou na sociedade que consome informação. E esta supra-atenção é válida para todas as realidades. Para a política, para a moda e desporto, para a religião, para a “mediatização” da realidade. Menosprezar situações como o abate ilegal de animais para assegurar peles de alta qualidade, aceitar o domínio do império mediático sem questionar as suas razões, consumir informação sem interpretar, são sintomas da indeferença instalada no sociedade. Todos somos responsáveis por esta situação.
Concordo quando se diz que a liberdade de diagnosticar o desenvolvimento de uma legislatura é sempre a mesma, independentemente de quem Governa. É uma posição louvável, nalguns casos revestida de coragem. Mas a realidade não é assim tão linear, ou pelo menos atribuível a uma classe ou sector profissional. As estratégias e a postura de um Governo influenciam claramente o comportamento dos media, e é inegável que o comportamento dos media perante este Governo socialista e os últimos governos dos PSD foi totalmente diferente. Como explicar isto? A passividade e incapacidade analítica latente em muitos meios de comunicação social é resultado de quê? Sabemos que os governos socialistas sempre tiveram dons anestésicos... Mas...
Como recorda Ignacio Ramonet no seu livro “Tirania da Comunicação”, a “censura democrática ...por oposição à censura autocrítica, já não assenta na supressão ou no corte, na amputação ou na proibição de dados, mas na acumulação, na saturação, no excesso e na super-abundância de informação.” Enfim, no controlo da informação.
Ou seja, como consumidor de informação, que depõe nos jornalistas confiança q.b. para pensar que a democracia tem mais um mecanismo fiscalizador, e até formador, não devo questionar e exigir uma informação mais rigorosa, firme, desinteressada (em vez de indiferente) e útil?Marco Freitas


****

O facto de ter questionado a força do impacto das imagens chocantes da campanha da "Associação Animal" já me valeu o rótulo de "anti-semita" dos "guaxanins"(?), das focas ou de todos os animais e, por outro lado, o apologista do glamour das plumagens naturais. Nada mais falso. Eu aplaudo a eficácia da campanha, assim como todas as opiniões, até então unânimes, que têm soado de vários quadrantes.
Aliás, as reacções só comprovam que as "terapia de choque" têm múltiplas faces e visam sempre fazer passar uma mensagem da forma abrupta e com efeitos imediatos. Por vezes têm o intuito de condicionar a liberdade de expressão ou de oprimir o direito de questionar as campanhas e as ilações veiculadas por ambas as partes. É por isso que, mesmo me parecendo óbvio, continuo a questionar.
O comentário do meu amigo Francisco Cardoso, faz-me lembrar um episódio de cá da terra, quando alguém se lembrou de que toda a opinião é legitima, mesmo aquela que tem como alvo as grandes obras. Refiro-me ao "maremoto" de críticas aos que ousaram criticar a operacionalidade da marina do Lugar de Baixo. Ora, como se viu, não tardaram as reacções dos escribas iluminados do (ou melhor pelo) regime que desde logo deliberaram a sua soberana sentença. O próprio chefe do Executivo ordenou o encetamento de uma perseguição fiscal aos "infiéis".
Como tal, penso que o pluralismo opinativo é bem vindo. Discordar não significa desrespeitar. E tanto o tema dos direitos dos animais como a questão do anúncio prévio da morte do papa, têm lugar neste espaço. Mas cada um no seu devido lugar. Ricardo Freitas

****
Mesmo neste mundo mediático, tenho dúvidas que as legislaturas sejam feitas em função do jornalismo ou vice-versa. Quando muito, algumas agendas parlamentares parecem ser talhadas à medida de alguma comunicação social que vai a tudo o que é “notícia”, “comunicado”, “convite”, “seminário” “exposição”, “conferência”, etc.…; o que me parece muito grave para a saúde dos órgãos de comunicação social, principalmente dos meios de comunicação que precisam da informação e de fazer manchetes para facturar e sobreviver. Mas isso é uma outra questão.
Respondendo directamente à pergunta, entendo que a comunicação social tem sobretudo, nesta ou em qualquer outra legislatura, o dever de informar sobre todos os temas, diplomas e projectos de interesse público (que deviam ser todos), bem como lançar debates sobre o que vai ser discutido e o que pode ou não lesar o interesse da maioria dos cidadãos; pois os deputados deviam agir em função da vontade pública e não em função do interesse partidário ou de “lobbies”. Por isso os “media” devem estar atentos ao espectro legislativo. A cobertura jornalística parlamentar, na minha opinião, e no caso particular da Madeira, ainda está muito aquém daquela que devia ser feita. Por vezes costuma-se distribuir o espaço e o tempo de informação pelas diferentes forças políticas, quando o que devia ser relatado era apenas a notícia. Só a novidade deve ser privilegiada e não as bacoradas que se dizem, que por vezes até têm contribuído para denegrir a imagem da maioria dos políticos e para a diminuição da confiança dos portugueses na classe política, desviando assim os potenciais valores das lides parlamentares.
O tempo de antena está consagrado na lei, a comunicação social tem de ir mais longe. Cada jornal, cada rádio, cada televisão, devia, pelo menos, tentar marcar a agenda política, lançando a discussão, a polémica útil, o debate público e acima de tudo informando com rigor e imparcialidade. Rigor e imparcialidade são duas palavras que às vezes me parecem escassear no jornalismo português e se calhar já foram riscadas do dicionário de alguns jornalistas. Já não falo no caso particular da região, onde cada vez mais gente pensa saber de jornalismo.
“Presunção e água benta, cada um toma a que quer”, mas às vezes um pouco de humildade ficava bem, mais precisamente a algumas pessoas que pensam ser sumidades, mas que pouco ou nada sabem de jornalismo, de recursos humanos e de dirigismo.

Mas vamos em frente…

P.S.: Experimentem colocar uma peça jornalística no ar, na televisão, sem dar voz a todos os partidos, para ver as reacções. Eu já fiz com todos os partidos e foi muito giro. E até não foi a maioria a que mais resmungou!!!
Virgílio Nóbrega

****

...E como sexta-feira ando mais liberto do stress...só hoje respondo ao Astrisco! Quando disse: "discordo em absoluto quando defendes que 'a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria'", eu respondo e reformulo a minha opinião e vontade de continuar a "denunciar o que está mal, informar o que está bem!".
Pouco me importa se o goevrno é rosa ou laranja, preto ou branco....tenho, felizmente, espaço num órgão de comunicação social e uma carteira profissional que me habilita a escrever e a dar a cara pelas notícias publicadas...E, para mim, isso é que interessa! No dia que deixar de ter hipótese de o fazer, se tiver forma e como, continuarei a tentar denunciar o errado, informar o certo! Repito: Governo nenhum, homem nenhum me impedirá de o fazer só pela simples pressão...Se tal acontecer, ou morto ou "amordaçado"...(desculpem o meu exagero! Sou assim, a escrever como o sou a falar...para quem não me conhece!). Sendo assim, concordo plenamente com a opinião do Roquelino Ornelas, desde o início "Em todas as legislaturas..." até ao fim "...sentido de cidadania."
Changing subject...e retomando o texto do Ricardo Freitas...a maior "terapia de choque" da informação foi dada, no passado dia 1 de Abril (curioso!!!), quando diversos órgãos de comunicação social televisivo (não ouvi as rádios...) anunciaram, citando a CNN que o tinha feito de "fonte segura e próxima" do Vaticano, que o Papa tinha morrido....isso foi 24 horas antes do anúncio oficial!!! Discutamos estes erros....pelo simples interesse da "cacha"...e depois pensemos nas campanhas "sujas" contra uma estilista que não tem bom senso de ver que uma coisa é matar os animais pela carne e para nos alimentarmos e outra coisa bem diferente é lavar as mãos sobre a carnificina de dezenas de milhar de focas-bebé no Canadá....por simples interesse comercial das peles, alvas e puras, que estas "crianças" têm!!! Isso mesmo defendeu a Fátima Lopes na Sic Notícias (penso que na Quinta-feira), quando questionada sobre a polémica com a ANIMAL...ela simplesmente respondeu, com mais ou menos desenvoltura, que quem comia carne, mas condenava o abate de animais para uso das peles, era hipócrita...Bom!!! Gostaria de vê-la a defender o mesmo se - imaginemos o mais exageradamente possível - fossem crianças humanas...Será que ela defende o mesmo que se passa em África ou na Ásia ou na América Latina?! As crianças que morrem de fome e da guerra há dezenas de anos....são vítimas da sede de poder dos homens...as crianças da Europa ou dos EUA, que vivem o seu dia-a-dia sem saberem a realidade das coisas, não têm culpa!!! Correcto?! Portanto, não vamos colocá-las perante esta rosa cheia de espinhos, deixemo-las num mundo cor-de-rosa, onde tudo é lindo e doce!!! É destas realidades que saem os adultos que compram os casacos ou sapatos de peles de animais...!!! Tenho dito...
Francisco Cardoso

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Certamente que muitos nós já nos deparámos com as imagens chocantes de homens a esquartejar animais vivos para lhes retirar as peles. Esta campanha desenfreada que tem como alvo a estilista madeirense Fátima Lopes, já despoletou um debate aceso e pouco consensual, felizmente. Em cartas do leitor do DN da Madeira já surtiram as primeiras reacções que condenaram a crueldade das imagens que mostram o videoclip divulgado pela "Associação Animal" e que pode ser consultado em www.animal.org.pt/fatimalopes.wmv. E assim a provocação conquistou o público.
Concorde-se ou não com o "vison" ou os casacos de pele, há outro aspecto que me deixa reticente e que lanço a todos vós, supervisores do circuito comunicativo que nos chega por todos os canais.
Se a crueldade foi a primeira palavra que me ocorreu após visionar essas imagens, hoje apraz-me questionar a manipulação, a força da mediatização e da propagação de uma campanha com imagens e mensagens lançadas em catadupa mas seleccionadas com bisturi. Fracções de filmagens montadas. Sobrepostas em sequência. Com frases alinhas. Ou desalinhadas. Difundidas num canal sem fronteiras, num cibermundo frágil em legislação e cujo remetente se confunde com o "provocador". Omisso.
Apraz-me questionar que associação é esta, porque lançou esta campanha (de prevenção, de sensibilização ou de choque?) neste período em particular, que mensagem pretende passar, que efeitos perversos está a ter junto do público e que ilações devemos daí retirar?
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, dez retalhos de imagens valerá mais do que cem letras numa frase? Não acredito, mas estou certo de que esta "terapia de choque" da informação tem vencido a minha batalha.
Ricardo Freitas

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A comunicação social e a política não se misturam, ou melhor não se deviam misturar. Um meio de comunicação social que decide vestir uma cor política não lhe deveria ser atribuído qualquer credibilidade. Não deixem que se confirme a ideia que a comunicação social move-se conforme a "onda". O papel da comunicação social SÉRIA é apenas relatar factos imparcialmente. Bom jornalismo. Roberto Xavier

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Em todas as legislaturas, de todas as maiorias caberá aos jornalistas não se “ habituarem”.
A nossa missão é informar.
Sem omissões premeditadas , com honestidade, rigor , verdade dos factos e sentido de cidadania.
Roquelino Ornelas

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Caro Francisco, és bem vindo ao debate. Tardou! Mas ainda bem que podemos contar com a tua colaboração e dos outros participantes para alimentar o que tem faltado neste País: debate. Aliás, ainda noutro dia, um participante lançava uma acha para a fogueira e, até ver, remeteu-se ao silêncio perante uma pequena provocação: afinal, algo que temos assistido muito nos últimos tempos lá pelos lados da governação... e satélites. Quanto ao teu comentário, discordo em absoluto quando defendes que "a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria". Quando lançamos este debate, uma das questões subjacentes era precisamente a rendição da comunicação social em relação a um poder cuja hierárquia pode ser questionada. A tua opinião parece indiciar que não só a comunicação social deixará de ser o quarto poder como também perderá toda a influência política e social. Enfim, toda a credibilidade que conquistou com muito suor. Afinal quem dá corpo à opinião pública? *Astrisco*

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Bem, antes de mais, quero atirar uma aos colegas e ex que se decidiram por este blog, em continuidade do boletim...Há alguns meses que sou altamente "instigado" a contribuir com a minha opinião! Pois bem, aceito...
Quanto à questão formulada, penso que a nossa postura pouco interessará a um governo de maioria, façam eles boas ou más acções governativas....Aliás, tal qual todos os governos de Portugal, ao longo desta jovem democracia, a postura da Comunicação Social só pode ter duas faces: denunciar o que está mal, informar o que está bem!
Agora, quanto ao acesso às informações oficiais, dependerá do estado de união desta maioria governativa, parlamentar e presidencial...pelo menos enquanto ela existir! Se quiserem informar informam, se não o quiserem, procuramos outros meios...
Os efeitos, nefastos ou benéficos, para a estabilidade do governo só se poderão sentir com o "tamanho da bronca" ou da cobertura jornalística que for feita pelo máximo de oŕgãos!!!
Há quem diga que os jornalistas portugueses são (quase) todos de esquerda - até pode ser verdade - , mas que ninguém diga que se este ou outro governo fizer asneirada, tendo o jornalista ou o órgão de Comunicação Social acesso à informação, se negará a publicá-lo ou a denunciá-lo!!! A menos que se sintam "porta-vozes"...
De resto, regionalizando um pouco a coisa, os jornalista madeirenses têm experiência na matéria que sobre para "ensinar" aos colegas, continentais e açoreanos, como devem lidar e informaros cidadãos, sem precisarem da confirmação da fonte governamental!!! Afinal, 30 anos (eu só tenho 27 de idade e 3 de Madeira...) a conviverem com um governo de maioria é "dose" q.b.!!! Com este governo socialista não será diferente (só a cor do partido)...

Don't U think?!

Saudações....Francisco Cardoso

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O papel da comunicação social deve ser o mesmo. O que prevejo é alguma reserva do Governo, algum controlo da informação, não só porque goza de uma maioria absoluta, mas também porque já manifestou grandes reservas quanto à informação que passa para os jornalistas.
Como foi o caso da constituição do Governo.
MA

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A comunicação social tem sempre o papel vital de informar com isenção e imparcialidade, independentemente da cor, ideologia ou órgão que constitua o poder político. Porém, o actual governo tem adoptado atitudes de alguma reserva que nos fazem questionar que postura teremos de imprimir de modo a garantir a liberdade de imprensa e o poder que nos assiste. Recorde-se a extrema reserva em relação à constituição do Governo, o controlo evidente e oculto desse novo poder politico em relação aos próprios membros que integram o Executivo, a segurança exacerbada no momento da posse do Governo e dos secretários de Estado. É ver os jornalistas sem a oportunidade de colocar questões. Os seguranças que garantiam o resguardo, através de um fosso cabal, que separava as câmaras fotográficas e de televisão dos senhores do poder. Tudo isto faz-nos questionar: que comunicação social pode merecer o país e até que ponto seremos todos passivos e complacentes?Ricardo Freitas

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Não é por aí
De uma forma muito directa digo: os jornalistas não são estrelas de cinema. Quem quer ser o centro das atenções que mude de profissão. E opções é o que não falta.
Atenção que não estou a falar do reconhecimento do trabalho do jornalista. Não é isso que está em causa.
O que me faz confusão é ver um jornalista a apresentar uma peça e cinco minutos depois estar a comentá-la. Pior, já li artigos de opinião de jornalistas sobre matérias que os próprios escreveram umas páginas à frente, comentando as opiniões das suas fontes e dando-se a situação ridícula do leitor conhecer primeiro o comentário do jornalista e só depois ler o motivo para essa reacção. Esse é um caminho perigoso. Todos sabem que isto acontece, mas a maioria assobia para o lado.
Na televisão ainda é mais grave. Ainda há dias num programa de estação privada estavam dois jornalistas a apresentar a noite dos Óscares. Mas um deles, por se conhecedor dos “bastidores” da sétima arte [como se essa não fosse condição básica para estar a fazer o programa], ora apresentava, ora era entrevistado pela colega. Não é por aí...
Portanto, para a próxima legislatura espero menos espectáculo e mais jornalismo. Esta profissão não pode ser encarada como rampa de lançamento para qualquer coisa.
Resta-me apelar à atenção de todos para a futura entidade reguladora para a comunicação social. Espero que todos não paguem por alguns. Era só o que faltava…
Alberto Pita

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Uma pequena provocação: O papel da comunicação social é precisamente o de proporcionar o debate (como este que estamos a desenvolver). Sem o diálogo informativo criado e desenvolvido pelos jornalistas através dos meios de comunicação social como manter a liberdade de opção, a escolha livre de ideias, a tomada de decisões sustentadas?
Não deveria haver nenhuma altura específica para debater o papel da comunicação social. Esse é, sem dúvida, um debate contínuo. Porquê fazê-lo no actual quadro político? Pelos sinais de controlo da informação que emite. Sob a capa de uma acção legítima de gestão informativa da actividade governativa, os actuais dirigentes do nosso País esperam contribuir para o sucesso económico, social e internacional de Portugal.
Sem confrontações. E se a comunicação social, num esforço raro de defesa dos destinos do País, limitar a sua função de contra-poder, não é verdade que o trabalho do Governo perderá um dos seus sistemas fiscalizadores?
Marco Freitas

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CARO *ASTRISCO*

É VERDADE QUE O DEBATE É UMA GRANDE FORMA DE EXPRESSÃO... mas expliquem-me por favor a razão de se debater o papel dos meios de comunicação social em função da nova legislatura....
Roquelino Ornelas
publicado por Marco Freitas às 11:46

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Abr 05
A pergunta lançada para debate pelo Astrisco já colheu um valioso leque de opiniões. Propositadamente ampla, a questão teve o condão de abrir espaço para outras discussões sobre os meandros da comunicação social. Apesar do conceito (legislatura) estar conotado com um ciclo político, a verdade é que a evolução e influência da política desenvolvida durante quatro anos define o percurso social, económico, cultural, educacional, desportivo e de valores de um população inteira.
O ASTRISCO pretende manter activo este debate alargado até a sua próxima publicação.
Agradecemos a todos os participantes a colaboração e fazemos um APELO a todos os outros para fazer parte deste debate. Como sempre, com sentido crítico e com seriedade.
"O ASTRISCO"

Cidadania, indiferença, abate de animais e tudo o mais relacionado com a sociedade mediática

O sentido de cidadania exigido a um jornalista é o mesmo que se exige a qualquer outro profissional de outra actividade. Nem mais nem menos! Por isso, e acrescentando a posição de destaque que um jornalista ocupa em cada momento dos nossos dias, ser jornalista não se coaduna com uma atitude social e ética de indiferença.
Se se é indiferente ao que nos rodeia, se o percurso pessoal e profissional desemboca numa postura de indiferença, como preservar os parâmetros que ajudam a definir o que está certo ou errado, justo ou injusto. Na concretização destes conceitos podemos encontrar a objectividade e a verdade da notícia.
É mais ou menos assumido que não é possível ser absolutamente objectivo e isento. Mesmo sob a capa da possível rigidez objectiva dos conteúdos muitas estratégias e interesses ganham espaço.
É no processo de busca da objectividade que o jornalismo se realiza. Portanto, num processo inteiramente subjectivo, muitas vezes pessoal. A clareza de informação e do discurso jornalístico só será alcançado na confluência de caudais emocionais, de manifestações diferentes ou coincidentes.
A minha opinião é que o olhar clínico que os media mantêm sobre a sociedade será certamente enfraquecido se a indiferença for a atitude reinante entre os jornalistas ou na sociedade que consome informação. E esta supra-atenção é válida para todas as realidades. Para a política, para a moda e desporto, para a religião, para a “mediatização” da realidade. Menosprezar situações como o abate ilegal de animais para assegurar peles de alta qualidade, aceitar o domínio do império mediático sem questionar as suas razões, consumir informação sem interpretar, são sintomas da indeferença instalada no sociedade. Todos somos responsáveis por esta situação.
Concordo quando se diz que a liberdade de diagnosticar o desenvolvimento de uma legislatura é sempre a mesma, independentemente de quem Governa. É uma posição louvável, nalguns casos revestida de coragem. Mas a realidade não é assim tão linear, ou pelo menos atribuível a uma classe ou sector profissional. As estratégias e a postura de um Governo influenciam claramente o comportamento dos media, e é inegável que o comportamento dos media perante este Governo socialista e os últimos governos dos PSD foi totalmente diferente. Como explicar isto? A passividade e incapacidade analítica latente em muitos meios de comunicação social é resultado de quê? Sabemos que os governos socialistas sempre tiveram dons anestésicos... Mas...
Como recorda Ignacio Ramonet no seu livro “Tirania da Comunicação”, a “censura democrática ...por oposição à censura autocrítica, já não assenta na supressão ou no corte, na amputação ou na proibição de dados, mas na acumulação, na saturação, no excesso e na super-abundância de informação.” Enfim, no controlo da informação.
Ou seja, como consumidor de informação, que depõe nos jornalistas confiança q.b. para pensar que a democracia tem mais um mecanismo fiscalizador, e até formador, não devo questionar e exigir uma informação mais rigorosa, firme, desinteressada (em vez de indiferente) e útil?Marco Freitas


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O facto de ter questionado a força do impacto das imagens chocantes da campanha da "Associação Animal" já me valeu o rótulo de "anti-semita" dos "guaxanins"(?), das focas ou de todos os animais e, por outro lado, o apologista do glamour das plumagens naturais. Nada mais falso. Eu aplaudo a eficácia da campanha, assim como todas as opiniões, até então unânimes, que têm soado de vários quadrantes.
Aliás, as reacções só comprovam que as "terapia de choque" têm múltiplas faces e visam sempre fazer passar uma mensagem da forma abrupta e com efeitos imediatos. Por vezes têm o intuito de condicionar a liberdade de expressão ou de oprimir o direito de questionar as campanhas e as ilações veiculadas por ambas as partes. É por isso que, mesmo me parecendo óbvio, continuo a questionar.
O comentário do meu amigo Francisco Cardoso, faz-me lembrar um episódio de cá da terra, quando alguém se lembrou de que toda a opinião é legitima, mesmo aquela que tem como alvo as grandes obras. Refiro-me ao "maremoto" de críticas aos que ousaram criticar a operacionalidade da marina do Lugar de Baixo. Ora, como se viu, não tardaram as reacções dos escribas iluminados do (ou melhor pelo) regime que desde logo deliberaram a sua soberana sentença. O próprio chefe do Executivo ordenou o encetamento de uma perseguição fiscal aos "infiéis".
Como tal, penso que o pluralismo opinativo é bem vindo. Discordar não significa desrespeitar. E tanto o tema dos direitos dos animais como a questão do anúncio prévio da morte do papa, têm lugar neste espaço. Mas cada um no seu devido lugar. Ricardo Freitas

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Mesmo neste mundo mediático, tenho dúvidas que as legislaturas sejam feitas em função do jornalismo ou vice-versa. Quando muito, algumas agendas parlamentares parecem ser talhadas à medida de alguma comunicação social que vai a tudo o que é “notícia”, “comunicado”, “convite”, “seminário” “exposição”, “conferência”, etc.…; o que me parece muito grave para a saúde dos órgãos de comunicação social, principalmente dos meios de comunicação que precisam da informação e de fazer manchetes para facturar e sobreviver. Mas isso é uma outra questão.
Respondendo directamente à pergunta, entendo que a comunicação social tem sobretudo, nesta ou em qualquer outra legislatura, o dever de informar sobre todos os temas, diplomas e projectos de interesse público (que deviam ser todos), bem como lançar debates sobre o que vai ser discutido e o que pode ou não lesar o interesse da maioria dos cidadãos; pois os deputados deviam agir em função da vontade pública e não em função do interesse partidário ou de “lobbies”. Por isso os “media” devem estar atentos ao espectro legislativo. A cobertura jornalística parlamentar, na minha opinião, e no caso particular da Madeira, ainda está muito aquém daquela que devia ser feita. Por vezes costuma-se distribuir o espaço e o tempo de informação pelas diferentes forças políticas, quando o que devia ser relatado era apenas a notícia. Só a novidade deve ser privilegiada e não as bacoradas que se dizem, que por vezes até têm contribuído para denegrir a imagem da maioria dos políticos e para a diminuição da confiança dos portugueses na classe política, desviando assim os potenciais valores das lides parlamentares.
O tempo de antena está consagrado na lei, a comunicação social tem de ir mais longe. Cada jornal, cada rádio, cada televisão, devia, pelo menos, tentar marcar a agenda política, lançando a discussão, a polémica útil, o debate público e acima de tudo informando com rigor e imparcialidade. Rigor e imparcialidade são duas palavras que às vezes me parecem escassear no jornalismo português e se calhar já foram riscadas do dicionário de alguns jornalistas. Já não falo no caso particular da região, onde cada vez mais gente pensa saber de jornalismo.
“Presunção e água benta, cada um toma a que quer”, mas às vezes um pouco de humildade ficava bem, mais precisamente a algumas pessoas que pensam ser sumidades, mas que pouco ou nada sabem de jornalismo, de recursos humanos e de dirigismo.

Mas vamos em frente…

P.S.: Experimentem colocar uma peça jornalística no ar, na televisão, sem dar voz a todos os partidos, para ver as reacções. Eu já fiz com todos os partidos e foi muito giro. E até não foi a maioria a que mais resmungou!!!
Virgílio Nóbrega

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...E como sexta-feira ando mais liberto do stress...só hoje respondo ao Astrisco! Quando disse: "discordo em absoluto quando defendes que 'a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria'", eu respondo e reformulo a minha opinião e vontade de continuar a "denunciar o que está mal, informar o que está bem!".
Pouco me importa se o goevrno é rosa ou laranja, preto ou branco....tenho, felizmente, espaço num órgão de comunicação social e uma carteira profissional que me habilita a escrever e a dar a cara pelas notícias publicadas...E, para mim, isso é que interessa! No dia que deixar de ter hipótese de o fazer, se tiver forma e como, continuarei a tentar denunciar o errado, informar o certo! Repito: Governo nenhum, homem nenhum me impedirá de o fazer só pela simples pressão...Se tal acontecer, ou morto ou "amordaçado"...(desculpem o meu exagero! Sou assim, a escrever como o sou a falar...para quem não me conhece!). Sendo assim, concordo plenamente com a opinião do Roquelino Ornelas, desde o início "Em todas as legislaturas..." até ao fim "...sentido de cidadania."
Changing subject...e retomando o texto do Ricardo Freitas...a maior "terapia de choque" da informação foi dada, no passado dia 1 de Abril (curioso!!!), quando diversos órgãos de comunicação social televisivo (não ouvi as rádios...) anunciaram, citando a CNN que o tinha feito de "fonte segura e próxima" do Vaticano, que o Papa tinha morrido....isso foi 24 horas antes do anúncio oficial!!! Discutamos estes erros....pelo simples interesse da "cacha"...e depois pensemos nas campanhas "sujas" contra uma estilista que não tem bom senso de ver que uma coisa é matar os animais pela carne e para nos alimentarmos e outra coisa bem diferente é lavar as mãos sobre a carnificina de dezenas de milhar de focas-bebé no Canadá....por simples interesse comercial das peles, alvas e puras, que estas "crianças" têm!!! Isso mesmo defendeu a Fátima Lopes na Sic Notícias (penso que na Quinta-feira), quando questionada sobre a polémica com a ANIMAL...ela simplesmente respondeu, com mais ou menos desenvoltura, que quem comia carne, mas condenava o abate de animais para uso das peles, era hipócrita...Bom!!! Gostaria de vê-la a defender o mesmo se - imaginemos o mais exageradamente possível - fossem crianças humanas...Será que ela defende o mesmo que se passa em África ou na Ásia ou na América Latina?! As crianças que morrem de fome e da guerra há dezenas de anos....são vítimas da sede de poder dos homens...as crianças da Europa ou dos EUA, que vivem o seu dia-a-dia sem saberem a realidade das coisas, não têm culpa!!! Correcto?! Portanto, não vamos colocá-las perante esta rosa cheia de espinhos, deixemo-las num mundo cor-de-rosa, onde tudo é lindo e doce!!! É destas realidades que saem os adultos que compram os casacos ou sapatos de peles de animais...!!! Tenho dito...
Francisco Cardoso

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Certamente que muitos nós já nos deparámos com as imagens chocantes de homens a esquartejar animais vivos para lhes retirar as peles. Esta campanha desenfreada que tem como alvo a estilista madeirense Fátima Lopes, já despoletou um debate aceso e pouco consensual, felizmente. Em cartas do leitor do DN da Madeira já surtiram as primeiras reacções que condenaram a crueldade das imagens que mostram o videoclip divulgado pela "Associação Animal" e que pode ser consultado em www.animal.org.pt/fatimalopes.wmv. E assim a provocação conquistou o público.
Concorde-se ou não com o "vison" ou os casacos de pele, há outro aspecto que me deixa reticente e que lanço a todos vós, supervisores do circuito comunicativo que nos chega por todos os canais.
Se a crueldade foi a primeira palavra que me ocorreu após visionar essas imagens, hoje apraz-me questionar a manipulação, a força da mediatização e da propagação de uma campanha com imagens e mensagens lançadas em catadupa mas seleccionadas com bisturi. Fracções de filmagens montadas. Sobrepostas em sequência. Com frases alinhas. Ou desalinhadas. Difundidas num canal sem fronteiras, num cibermundo frágil em legislação e cujo remetente se confunde com o "provocador". Omisso.
Apraz-me questionar que associação é esta, porque lançou esta campanha (de prevenção, de sensibilização ou de choque?) neste período em particular, que mensagem pretende passar, que efeitos perversos está a ter junto do público e que ilações devemos daí retirar?
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, dez retalhos de imagens valerá mais do que cem letras numa frase? Não acredito, mas estou certo de que esta "terapia de choque" da informação tem vencido a minha batalha.
Ricardo Freitas

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A comunicação social e a política não se misturam, ou melhor não se deviam misturar. Um meio de comunicação social que decide vestir uma cor política não lhe deveria ser atribuído qualquer credibilidade. Não deixem que se confirme a ideia que a comunicação social move-se conforme a "onda". O papel da comunicação social SÉRIA é apenas relatar factos imparcialmente. Bom jornalismo. Roberto Xavier

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Em todas as legislaturas, de todas as maiorias caberá aos jornalistas não se “ habituarem”.
A nossa missão é informar.
Sem omissões premeditadas , com honestidade, rigor , verdade dos factos e sentido de cidadania.
Roquelino Ornelas

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Caro Francisco, és bem vindo ao debate. Tardou! Mas ainda bem que podemos contar com a tua colaboração e dos outros participantes para alimentar o que tem faltado neste País: debate. Aliás, ainda noutro dia, um participante lançava uma acha para a fogueira e, até ver, remeteu-se ao silêncio perante uma pequena provocação: afinal, algo que temos assistido muito nos últimos tempos lá pelos lados da governação... e satélites. Quanto ao teu comentário, discordo em absoluto quando defendes que "a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria". Quando lançamos este debate, uma das questões subjacentes era precisamente a rendição da comunicação social em relação a um poder cuja hierárquia pode ser questionada. A tua opinião parece indiciar que não só a comunicação social deixará de ser o quarto poder como também perderá toda a influência política e social. Enfim, toda a credibilidade que conquistou com muito suor. Afinal quem dá corpo à opinião pública? *Astrisco*

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Bem, antes de mais, quero atirar uma aos colegas e ex que se decidiram por este blog, em continuidade do boletim...Há alguns meses que sou altamente "instigado" a contribuir com a minha opinião! Pois bem, aceito...
Quanto à questão formulada, penso que a nossa postura pouco interessará a um governo de maioria, façam eles boas ou más acções governativas....Aliás, tal qual todos os governos de Portugal, ao longo desta jovem democracia, a postura da Comunicação Social só pode ter duas faces: denunciar o que está mal, informar o que está bem!
Agora, quanto ao acesso às informações oficiais, dependerá do estado de união desta maioria governativa, parlamentar e presidencial...pelo menos enquanto ela existir! Se quiserem informar informam, se não o quiserem, procuramos outros meios...
Os efeitos, nefastos ou benéficos, para a estabilidade do governo só se poderão sentir com o "tamanho da bronca" ou da cobertura jornalística que for feita pelo máximo de oŕgãos!!!
Há quem diga que os jornalistas portugueses são (quase) todos de esquerda - até pode ser verdade - , mas que ninguém diga que se este ou outro governo fizer asneirada, tendo o jornalista ou o órgão de Comunicação Social acesso à informação, se negará a publicá-lo ou a denunciá-lo!!! A menos que se sintam "porta-vozes"...
De resto, regionalizando um pouco a coisa, os jornalista madeirenses têm experiência na matéria que sobre para "ensinar" aos colegas, continentais e açoreanos, como devem lidar e informaros cidadãos, sem precisarem da confirmação da fonte governamental!!! Afinal, 30 anos (eu só tenho 27 de idade e 3 de Madeira...) a conviverem com um governo de maioria é "dose" q.b.!!! Com este governo socialista não será diferente (só a cor do partido)...

Don't U think?!

Saudações....Francisco Cardoso

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O papel da comunicação social deve ser o mesmo. O que prevejo é alguma reserva do Governo, algum controlo da informação, não só porque goza de uma maioria absoluta, mas também porque já manifestou grandes reservas quanto à informação que passa para os jornalistas.
Como foi o caso da constituição do Governo.
MA

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A comunicação social tem sempre o papel vital de informar com isenção e imparcialidade, independentemente da cor, ideologia ou órgão que constitua o poder político. Porém, o actual governo tem adoptado atitudes de alguma reserva que nos fazem questionar que postura teremos de imprimir de modo a garantir a liberdade de imprensa e o poder que nos assiste. Recorde-se a extrema reserva em relação à constituição do Governo, o controlo evidente e oculto desse novo poder politico em relação aos próprios membros que integram o Executivo, a segurança exacerbada no momento da posse do Governo e dos secretários de Estado. É ver os jornalistas sem a oportunidade de colocar questões. Os seguranças que garantiam o resguardo, através de um fosso cabal, que separava as câmaras fotográficas e de televisão dos senhores do poder. Tudo isto faz-nos questionar: que comunicação social pode merecer o país e até que ponto seremos todos passivos e complacentes?Ricardo Freitas

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Não é por aí
De uma forma muito directa digo: os jornalistas não são estrelas de cinema. Quem quer ser o centro das atenções que mude de profissão. E opções é o que não falta.
Atenção que não estou a falar do reconhecimento do trabalho do jornalista. Não é isso que está em causa.
O que me faz confusão é ver um jornalista a apresentar uma peça e cinco minutos depois estar a comentá-la. Pior, já li artigos de opinião de jornalistas sobre matérias que os próprios escreveram umas páginas à frente, comentando as opiniões das suas fontes e dando-se a situação ridícula do leitor conhecer primeiro o comentário do jornalista e só depois ler o motivo para essa reacção. Esse é um caminho perigoso. Todos sabem que isto acontece, mas a maioria assobia para o lado.
Na televisão ainda é mais grave. Ainda há dias num programa de estação privada estavam dois jornalistas a apresentar a noite dos Óscares. Mas um deles, por se conhecedor dos “bastidores” da sétima arte [como se essa não fosse condição básica para estar a fazer o programa], ora apresentava, ora era entrevistado pela colega. Não é por aí...
Portanto, para a próxima legislatura espero menos espectáculo e mais jornalismo. Esta profissão não pode ser encarada como rampa de lançamento para qualquer coisa.
Resta-me apelar à atenção de todos para a futura entidade reguladora para a comunicação social. Espero que todos não paguem por alguns. Era só o que faltava…
Alberto Pita

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Uma pequena provocação: O papel da comunicação social é precisamente o de proporcionar o debate (como este que estamos a desenvolver). Sem o diálogo informativo criado e desenvolvido pelos jornalistas através dos meios de comunicação social como manter a liberdade de opção, a escolha livre de ideias, a tomada de decisões sustentadas?
Não deveria haver nenhuma altura específica para debater o papel da comunicação social. Esse é, sem dúvida, um debate contínuo. Porquê fazê-lo no actual quadro político? Pelos sinais de controlo da informação que emite. Sob a capa de uma acção legítima de gestão informativa da actividade governativa, os actuais dirigentes do nosso País esperam contribuir para o sucesso económico, social e internacional de Portugal.
Sem confrontações. E se a comunicação social, num esforço raro de defesa dos destinos do País, limitar a sua função de contra-poder, não é verdade que o trabalho do Governo perderá um dos seus sistemas fiscalizadores?
Marco Freitas

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CARO *ASTRISCO*

É VERDADE QUE O DEBATE É UMA GRANDE FORMA DE EXPRESSÃO... mas expliquem-me por favor a razão de se debater o papel dos meios de comunicação social em função da nova legislatura....
Roquelino Ornelas
publicado por Marco Freitas às 20:43

08
Abr 05
O debate é uma das formas mais directa e livre de expressão de vontades e ideias. Por isso, o *astrisco* decidiu criar este espaço. O astrisco

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O facto de ter questionado a força do impacto das imagens chocantes da campanha da "Associação Animal" já me valeu o rótulo de "anti-semita" dos "guaxanins"(?), das focas ou de todos os animais e, por outro lado, o apologista do glamour das plumagens naturais. Nada mais falso. Eu aplaudo a eficácia da campanha, assim como todas as opiniões, até então unânimes, que têm soado de vários quadrantes.
Aliás, as reacções só comprovam que as "terapia de choque" têm múltiplas faces e visam sempre fazer passar uma mensagem da forma abrupta e com efeitos imediatos. Por vezes têm o intuito de condicionar a liberdade de expressão ou de oprimir o direito de questionar as campanhas e as ilações veiculadas por ambas as partes. É por isso que, mesmo me parecendo óbvio, continuo a questionar.
O comentário do meu amigo Francisco Cardoso, faz-me lembrar um episódio de cá da terra, quando alguém se lembrou de que toda a opinião é legitima, mesmo aquela que tem como alvo as grandes obras. Refiro-me ao "maremoto" de críticas aos que ousaram criticar a operacionalidade da marina do Lugar de Baixo. Ora, como se viu, não tardaram as reacções dos escribas iluminados do (ou melhor pelo) regime que desde logo deliberaram a sua soberana sentença. O próprio chefe do Executivo ordenou o encetamento de uma perseguição fiscal aos "infiéis".
Como tal, penso que o pluralismo opinativo é bem vindo. Discordar não significa desrespeitar. E tanto o tema dos direitos dos animais como a questão do anúncio prévio da morte do papa, têm lugar neste espaço. Mas cada um no seu devido lugar. Ricardo Freitas

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Mesmo neste mundo mediático, tenho dúvidas que as legislaturas sejam feitas em função do jornalismo ou vice-versa. Quando muito, algumas agendas parlamentares parecem ser talhadas à medida de alguma comunicação social que vai a tudo o que é “notícia”, “comunicado”, “convite”, “seminário” “exposição”, “conferência”, etc.…; o que me parece muito grave para a saúde dos órgãos de comunicação social, principalmente dos meios de comunicação que precisam da informação e de fazer manchetes para facturar e sobreviver. Mas isso é uma outra questão.
Respondendo directamente à pergunta, entendo que a comunicação social tem sobretudo, nesta ou em qualquer outra legislatura, o dever de informar sobre todos os temas, diplomas e projectos de interesse público (que deviam ser todos), bem como lançar debates sobre o que vai ser discutido e o que pode ou não lesar o interesse da maioria dos cidadãos; pois os deputados deviam agir em função da vontade pública e não em função do interesse partidário ou de “lobbies”. Por isso os “media” devem estar atentos ao espectro legislativo. A cobertura jornalística parlamentar, na minha opinião, e no caso particular da Madeira, ainda está muito aquém daquela que devia ser feita. Por vezes costuma-se distribuir o espaço e o tempo de informação pelas diferentes forças políticas, quando o que devia ser relatado era apenas a notícia. Só a novidade deve ser privilegiada e não as bacoradas que se dizem, que por vezes até têm contribuído para denegrir a imagem da maioria dos políticos e para a diminuição da confiança dos portugueses na classe política, desviando assim os potenciais valores das lides parlamentares.
O tempo de antena está consagrado na lei, a comunicação social tem de ir mais longe. Cada jornal, cada rádio, cada televisão, devia, pelo menos, tentar marcar a agenda política, lançando a discussão, a polémica útil, o debate público e acima de tudo informando com rigor e imparcialidade. Rigor e imparcialidade são duas palavras que às vezes me parecem escassear no jornalismo português e se calhar já foram riscadas do dicionário de alguns jornalistas. Já não falo no caso particular da região, onde cada vez mais gente pensa saber de jornalismo.
“Presunção e água benta, cada um toma a que quer”, mas às vezes um pouco de humildade ficava bem, mais precisamente a algumas pessoas que pensam ser sumidades, mas que pouco ou nada sabem de jornalismo, de recursos humanos e de dirigismo.

Mas vamos em frente…

P.S.: Experimentem colocar uma peça jornalística no ar, na televisão, sem dar voz a todos os partidos, para ver as reacções. Eu já fiz com todos os partidos e foi muito giro. E até não foi a maioria a que mais resmungou!!!
Virgílio Nóbrega

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...E como sexta-feira ando mais liberto do stress...só hoje respondo ao Astrisco! Quando disse: "discordo em absoluto quando defendes que 'a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria'", eu respondo e reformulo a minha opinião e vontade de continuar a "denunciar o que está mal, informar o que está bem!".
Pouco me importa se o goevrno é rosa ou laranja, preto ou branco....tenho, felizmente, espaço num órgão de comunicação social e uma carteira profissional que me habilita a escrever e a dar a cara pelas notícias publicadas...E, para mim, isso é que interessa! No dia que deixar de ter hipótese de o fazer, se tiver forma e como, continuarei a tentar denunciar o errado, informar o certo! Repito: Governo nenhum, homem nenhum me impedirá de o fazer só pela simples pressão...Se tal acontecer, ou morto ou "amordaçado"...(desculpem o meu exagero! Sou assim, a escrever como o sou a falar...para quem não me conhece!). Sendo assim, concordo plenamente com a opinião do Roquelino Ornelas, desde o início "Em todas as legislaturas..." até ao fim "...sentido de cidadania."
Changing subject...e retomando o texto do Ricardo Freitas...a maior "terapia de choque" da informação foi dada, no passado dia 1 de Abril (curioso!!!), quando diversos órgãos de comunicação social televisivo (não ouvi as rádios...) anunciaram, citando a CNN que o tinha feito de "fonte segura e próxima" do Vaticano, que o Papa tinha morrido....isso foi 24 horas antes do anúncio oficial!!! Discutamos estes erros....pelo simples interesse da "cacha"...e depois pensemos nas campanhas "sujas" contra uma estilista que não tem bom senso de ver que uma coisa é matar os animais pela carne e para nos alimentarmos e outra coisa bem diferente é lavar as mãos sobre a carnificina de dezenas de milhar de focas-bebé no Canadá....por simples interesse comercial das peles, alvas e puras, que estas "crianças" têm!!! Isso mesmo defendeu a Fátima Lopes na Sic Notícias (penso que na Quinta-feira), quando questionada sobre a polémica com a ANIMAL...ela simplesmente respondeu, com mais ou menos desenvoltura, que quem comia carne, mas condenava o abate de animais para uso das peles, era hipócrita...Bom!!! Gostaria de vê-la a defender o mesmo se - imaginemos o mais exageradamente possível - fossem crianças humanas...Será que ela defende o mesmo que se passa em África ou na Ásia ou na América Latina?! As crianças que morrem de fome e da guerra há dezenas de anos....são vítimas da sede de poder dos homens...as crianças da Europa ou dos EUA, que vivem o seu dia-a-dia sem saberem a realidade das coisas, não têm culpa!!! Correcto?! Portanto, não vamos colocá-las perante esta rosa cheia de espinhos, deixemo-las num mundo cor-de-rosa, onde tudo é lindo e doce!!! É destas realidades que saem os adultos que compram os casacos ou sapatos de peles de animais...!!! Tenho dito...
Francisco Cardoso

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Certamente que muitos nós já nos deparámos com as imagens chocantes de homens a esquartejar animais vivos para lhes retirar as peles. Esta campanha desenfreada que tem como alvo a estilista madeirense Fátima Lopes, já despoletou um debate aceso e pouco consensual, felizmente. Em cartas do leitor do DN da Madeira já surtiram as primeiras reacções que condenaram a crueldade das imagens que mostram o videoclip divulgado pela "Associação Animal" e que pode ser consultado em www.animal.org.pt/fatimalopes.wmv. E assim a provocação conquistou o público.
Concorde-se ou não com o "vison" ou os casacos de pele, há outro aspecto que me deixa reticente e que lanço a todos vós, supervisores do circuito comunicativo que nos chega por todos os canais.
Se a crueldade foi a primeira palavra que me ocorreu após visionar essas imagens, hoje apraz-me questionar a manipulação, a força da mediatização e da propagação de uma campanha com imagens e mensagens lançadas em catadupa mas seleccionadas com bisturi. Fracções de filmagens montadas. Sobrepostas em sequência. Com frases alinhas. Ou desalinhadas. Difundidas num canal sem fronteiras, num cibermundo frágil em legislação e cujo remetente se confunde com o "provocador". Omisso.
Apraz-me questionar que associação é esta, porque lançou esta campanha (de prevenção, de sensibilização ou de choque?) neste período em particular, que mensagem pretende passar, que efeitos perversos está a ter junto do público e que ilações devemos daí retirar?
Se uma imagem vale mais do que mil palavras, dez retalhos de imagens valerá mais do que cem letras numa frase? Não acredito, mas estou certo de que esta "terapia de choque" da informação tem vencido a minha batalha.
Ricardo Freitas

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A comunicação social e a política não se misturam, ou melhor não se deviam misturar. Um meio de comunicação social que decide vestir uma cor política não lhe deveria ser atribuído qualquer credibilidade. Não deixem que se confirme a ideia que a comunicação social move-se conforme a "onda". O papel da comunicação social SÉRIA é apenas relatar factos imparcialmente. Bom jornalismo. Roberto Xavier

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Em todas as legislaturas, de todas as maiorias caberá aos jornalistas não se “ habituarem”.
A nossa missão é informar.
Sem omissões premeditadas , com honestidade, rigor , verdade dos factos e sentido de cidadania.
Roquelino Ornelas

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Caro Francisco, és bem vindo ao debate. Tardou! Mas ainda bem que podemos contar com a tua colaboração e dos outros participantes para alimentar o que tem faltado neste País: debate. Aliás, ainda noutro dia, um participante lançava uma acha para a fogueira e, até ver, remeteu-se ao silêncio perante uma pequena provocação: afinal, algo que temos assistido muito nos últimos tempos lá pelos lados da governação... e satélites. Quanto ao teu comentário, discordo em absoluto quando defendes que "a nossa postura (de um jornalista) pouco interessará a um governo de maioria". Quando lançamos este debate, uma das questões subjacentes era precisamente a rendição da comunicação social em relação a um poder cuja hierárquia pode ser questionada. A tua opinião parece indiciar que não só a comunicação social deixará de ser o quarto poder como também perderá toda a influência política e social. Enfim, toda a credibilidade que conquistou com muito suor. Afinal quem dá corpo à opinião pública? *Astrisco*

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Bem, antes de mais, quero atirar uma aos colegas e ex que se decidiram por este blog, em continuidade do boletim...Há alguns meses que sou altamente "instigado" a contribuir com a minha opinião! Pois bem, aceito...
Quanto à questão formulada, penso que a nossa postura pouco interessará a um governo de maioria, façam eles boas ou más acções governativas....Aliás, tal qual todos os governos de Portugal, ao longo desta jovem democracia, a postura da Comunicação Social só pode ter duas faces: denunciar o que está mal, informar o que está bem!
Agora, quanto ao acesso às informações oficiais, dependerá do estado de união desta maioria governativa, parlamentar e presidencial...pelo menos enquanto ela existir! Se quiserem informar informam, se não o quiserem, procuramos outros meios...
Os efeitos, nefastos ou benéficos, para a estabilidade do governo só se poderão sentir com o "tamanho da bronca" ou da cobertura jornalística que for feita pelo máximo de oŕgãos!!!
Há quem diga que os jornalistas portugueses são (quase) todos de esquerda - até pode ser verdade - , mas que ninguém diga que se este ou outro governo fizer asneirada, tendo o jornalista ou o órgão de Comunicação Social acesso à informação, se negará a publicá-lo ou a denunciá-lo!!! A menos que se sintam "porta-vozes"...
De resto, regionalizando um pouco a coisa, os jornalista madeirenses têm experiência na matéria que sobre para "ensinar" aos colegas, continentais e açoreanos, como devem lidar e informaros cidadãos, sem precisarem da confirmação da fonte governamental!!! Afinal, 30 anos (eu só tenho 27 de idade e 3 de Madeira...) a conviverem com um governo de maioria é "dose" q.b.!!! Com este governo socialista não será diferente (só a cor do partido)...

Don't U think?!

Saudações....Francisco Cardoso

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O papel da comunicação social deve ser o mesmo. O que prevejo é alguma reserva do Governo, algum controlo da informação, não só porque goza de uma maioria absoluta, mas também porque já manifestou grandes reservas quanto à informação que passa para os jornalistas.
Como foi o caso da constituição do Governo.
MA

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A comunicação social tem sempre o papel vital de informar com isenção e imparcialidade, independentemente da cor, ideologia ou órgão que constitua o poder político. Porém, o actual governo tem adoptado atitudes de alguma reserva que nos fazem questionar que postura teremos de imprimir de modo a garantir a liberdade de imprensa e o poder que nos assiste. Recorde-se a extrema reserva em relação à constituição do Governo, o controlo evidente e oculto desse novo poder politico em relação aos próprios membros que integram o Executivo, a segurança exacerbada no momento da posse do Governo e dos secretários de Estado. É ver os jornalistas sem a oportunidade de colocar questões. Os seguranças que garantiam o resguardo, através de um fosso cabal, que separava as câmaras fotográficas e de televisão dos senhores do poder. Tudo isto faz-nos questionar: que comunicação social pode merecer o país e até que ponto seremos todos passivos e complacentes?Ricardo Freitas

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Não é por aí
De uma forma muito directa digo: os jornalistas não são estrelas de cinema. Quem quer ser o centro das atenções que mude de profissão. E opções é o que não falta.
Atenção que não estou a falar do reconhecimento do trabalho do jornalista. Não é isso que está em causa.
O que me faz confusão é ver um jornalista a apresentar uma peça e cinco minutos depois estar a comentá-la. Pior, já li artigos de opinião de jornalistas sobre matérias que os próprios escreveram umas páginas à frente, comentando as opiniões das suas fontes e dando-se a situação ridícula do leitor conhecer primeiro o comentário do jornalista e só depois ler o motivo para essa reacção. Esse é um caminho perigoso. Todos sabem que isto acontece, mas a maioria assobia para o lado.
Na televisão ainda é mais grave. Ainda há dias num programa de estação privada estavam dois jornalistas a apresentar a noite dos Óscares. Mas um deles, por se conhecedor dos “bastidores” da sétima arte [como se essa não fosse condição básica para estar a fazer o programa], ora apresentava, ora era entrevistado pela colega. Não é por aí...
Portanto, para a próxima legislatura espero menos espectáculo e mais jornalismo. Esta profissão não pode ser encarada como rampa de lançamento para qualquer coisa.
Resta-me apelar à atenção de todos para a futura entidade reguladora para a comunicação social. Espero que todos não paguem por alguns. Era só o que faltava…
Alberto Pita

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Uma pequena provocação: O papel da comunicação social é precisamente o de proporcionar o debate (como este que estamos a desenvolver). Sem o diálogo informativo criado e desenvolvido pelos jornalistas através dos meios de comunicação social como manter a liberdade de opção, a escolha livre de ideias, a tomada de decisões sustentadas?
Não deveria haver nenhuma altura específica para debater o papel da comunicação social. Esse é, sem dúvida, um debate contínuo. Porquê fazê-lo no actual quadro político? Pelos sinais de controlo da informação que emite. Sob a capa de uma acção legítima de gestão informativa da actividade governativa, os actuais dirigentes do nosso País esperam contribuir para o sucesso económico, social e internacional de Portugal.
Sem confrontações. E se a comunicação social, num esforço raro de defesa dos destinos do País, limitar a sua função de contra-poder, não é verdade que o trabalho do Governo perderá um dos seus sistemas fiscalizadores?
Marco Freitas

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CARO *ASTRISCO*

É VERDADE QUE O DEBATE É UMA GRANDE FORMA DE EXPRESSÃO... mas expliquem-me por favor a razão de se debater o papel dos meios de comunicação social em função da nova legislatura....
Roquelino Ornelas
publicado por Marco Freitas às 20:38

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