A avalanche de análises e conjunturas de toda a ordem que nos foi proporcionada nos últimos meses de 2011 é digna de concorrer com as profecias de Nostradamus. Por mim, dispenso grandes exercícios de cartomancia para saber que 2012 será um dos piores anos do início de século. É simples: teremos menos dinheiro disponível numa altura em que é preciso ir mais longe.
Contudo, no que diz respeito a Madeira, malgrado as dificuldades a enfrentar devido as opções tomadas e de que fomos todos parte delas, não enveredo pelo discurso degenerativo que o actual momento facilita.
Não aceito sentimentos de derrota no povo madeirense. Não de um povo que furou escarpas de basalto para fazer estradas e que pulou montanhas para irrigar a ilha através de levadas. Por isso, digo: quem não sentir o sopro da força colectiva e construtiva que é reserva da nossa história tem pouco de ilhéu e ainda menos de útil para o futuro da Madeira.
Para equacionar um futuro mais orientado e mais positivo teremos que colocar todas as cartas na mesa, sem medos de abordar as mais impensáveis soluções políticas e económicas e de, finalmente, começar a traçar uma nova linha de desenvolvimento sustentável. Não foi por falta de tentativas nem de avisos que o caminho foi adiado.
Haverá ilegitimidade ou ilegalidade em debater, de forma séria e objectiva, formas da Madeira realmente controlar os seus destinos? Os próximos tempos difíceis ditarão a necessidade de concretizar uma outra relação da Madeira com a República e com o Mundo. Negar este debate por medos indefinidos é sinónimo de fraqueza, aliás, até agora bem patente na praxis discursiva regional, designadamente no nosso amplo espectro político.
O meio termo provou ser esquivo. Como tal, ou alcançamos a absoluta autonomia económica e financeira ou seremos eternos servos da gleba.
Marco Freitas