Comunicar pode ser fácil... Se no tempo que a vida nos permite procurarmos transmitir o essencial, desvalorizar o acessório e contribuir, num segundo que seja, para que a mensagem se assuma como tal e não como um universo de segredos...

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Fev 08
A demissão de Alberto João Jardim a 19 de Fevereiro de 2007 pode ser considerada um momento memorável na história recente da democracia nacional e regional. Na essência, porque um partido há imensos anos no poder resolveu – por decisão do seu líder – colocar-se numa posição de alguma fragilidade, no sentido de que uma corrida eleitoral é um processo dinâmico, pouco ou nada linear, um exercício subjectivo e sujeito a erros estratégicos. A sondagem que se diz ter sido pedida por Jardim para sustentar a sua decisão certamente não prometeu uma vitória absoluta.
Ir a eleições naquela altura, com todas as suas implicações, foi também uma decisão histórica porque comportava riscos dignos de registo. Desde logo, o quadro económico, social e político da Região. À data, para além da discussão sobre as condições económicas da Madeira, em consequência do debate sobre a LFRA, agudizou-se o chamado “contencioso com os Governos do território continental”, alimentando-se argumentos divisórios à unidade social entre povos de uma mesma nação.
Tudo isto aconteceu nos corredores do poder e também nas páginas dos jornais. Os meios de comunicação social foram palco preferencial de um debate aguerrido que culminou na demissão de Jardim, nas eleições antecipadas e na vitória retumbante de um partido.
Mas se a realização mais ou menos inesperada de um processo eleitoral podia oferecer perigo à maioria, os restantes partidos também tiveram de enfrentar a urgência da situação. Aparentemente, com excepção do CDS/PP, que convivia com uma situação interna difícil e apresentou-se ao eleitorado numa posição dúbia em relação à LFRA, os restantes partidos evidenciaram linhas estratégicas sem “meias-posições”. No global, considera-se que os partidos conseguiram dar uma resposta rápida às exigências da ocasião, sendo que a medida da sua eficácia ficou medida na noite das eleições, a seis de Maio. Estes aspectos da vida dos partidos foram reflectidos na comunicação social regional.


A relação de proximidade dos jornalistas com o universo político tem sido profusamente abordada por especialistas de vários campos e de várias ciências sociais, sob diversos prismas. A comunicação social regional não difere, neste aspecto, da restante nacional ou mesmo internacional. O que leva a perguntar, nos limites, se seria possível que os políticos sobrevivessem como tal sem o mundo mediático ou se os media se habituariam a não favorecer o espaço político. Isto para dizer que há uma reciprocidade de interesses entres as duas classes sociais e profissionais que, do lado positivo, podemos perceber um fim altruísta e social mas, do outro lado, daquele que traduz a ambição desmedida dos protagonistas, um uso direccionado, espartilhado e até anti-social.
Mais do que os espaços próprios da discussão da res publica, desde as assembleias de freguesia à Assembleia da República, ou ainda aos espaços socialmente activos das organizações associativas, a comunicação social posiciona-se como o palco preferido da política para se expressar, para influenciar a sociedade, as suas decisões e evolução.

Estas eleições antecipadas na Região tinham todos os condimentos para ser um alvo preferencial da agenda mediática. Aliás, um dos motivos que nos levou a realizar um trabalho de pesquisa e respectiva leitura analítica sobre este período mediático. Em tempos tão agitados, o esforço logístico dedicado às eleições, as transformações do espaço editorial, as escolhas editoriais e os temas envolvidos são aspectos interessantes da actividade jornalística, certamente, merecedores de estudo.
Marcou-nos a curiosidade de tentar descobrir quem e o que determinou a agenda temática da comunicação social regional. A dedicação da comunicação nacional ao tema foi, aliás, um sintoma de quanto este período merecia ser alvo de uma análise cuidada. Confesso que à data olhei para a logística nacional na Madeira sob o prisma de que falta temas polémicos na imprensa do rectângulo e, por isso, as eleições da Madeira eram um elixir interessante para os editores, até porque se centrava no impacto e na explosão informativa resultante do debate entre dois políticos de peso, como Jardim e Sócrates.
Em 84 dias registamos 2680 peças editoriais/informativas relacionadas com eleições antecipadas de 6 de Maio de 2007. Destas 1555 (58%) foram publicadas pelo DNM e 1125 pelo JM (42%). Em termos globais podemos dizer que não houve uma grande diferença em termos quantitativos na cobertura informativa do período em questão entre os dois títulos envolvidos no estudo.
A análise às fontes presentes nos trabalhos informativos revelou que 1684 foram de origem política. Logo depois surgiu como fonte preferencial a própria imprensa com 653 peças. Uma nota interessante da intervenção do sector na realidade social e política da altura. Um outro dado curioso está ao nível de referências nos títulos dos intervenientes activos da campanha em geral. Do total das referências em títulos, o PS foi quem obteve maior número (185), logo secundado pelas referências a AJJ (181). As referências ao PSD ficam aquém dos anteriores protagonistas (122) sendo que o CDS tem praticamente o mesmo nível de referências (117).
Uma das notas de relevo é que Jacinto Serrão, líder do maior partido da oposição, apresentou um número de referências tão baixa quanto do PND, pequeno partido que se lançou nesta campanha sem grandes pretensões e sem estratégias megalómanas de propaganda. Ou seja, Serrão obteve 56 referências em título e o PND 52. Todos os restantes partidos tiveram mais referências que estes (BE – 89; MPT-95; e CDU-94).
O trabalho de análise ainda não está concluído mas é nosso objectivo elaborar um trabalho rigoroso e sério que permita um registo digno daquele período importante da história democrática da Região.

Hoje colocamos no blog alguns dos textos analíticos que fomos produzindo ao longo deste ano e que deixamos à disponibilidade para serem comentados.
publicado por Marco Freitas às 10:50

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